sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Vozes surdas e burras, vozes da vergonha.

Vozes surdas e burras, vozes da vergonha




Tudo desligado em casa, ouço vozes. Tudo infringente para comigo, choco-me contra uma parede, - mas sem anotar a placa. Fiquei como um bôbo de mão ao queixo. É como me sinto. Verbos de vergonha, palavras surradas, emendas....e, esbugalho os olhos e de abano ficam minhas orelhas para ouvir bem.


Ouvindo vozes, soube de soluções aleatórias. Aleatórias. Não imaginárias. Pelo menos nem todas. Algumas apenas...


Vê que todo mundo faz as contas numa eleição, especialmente na de vereadores, porque é proporcional, ou seja, fortes legendas fazem mais eleitos, e legendas são agrupamentos de partidos sub-divididos em nomes de candidatos. Vê, então, que não é tão simples, mas também não é o fim do mundo.


Era mais ou menos consensual o nome de pelo menos 6 dos 9 concorrentes eleitos em RA. Uma margem de acerto razoável, pra lá de boa, até acho.


O que também era consensual, mas que ficou para lá de diferente do projetado foram os números de votos obtidos por alguns. E onde eles faltaram e quem acabou beneficiado.


Os votos mudaram de lugar. De repente, mudaram de lugar, de nome, de dono.

È isso aí. Alguns votos tem donos. E alguns de alguns desses votos tem posseiros, aqueles que se adonam de assalto, que chegam com ameaças agradáveis, geralmente ao estômago, em hora estrategizada, em horas de sombras enluaradas.


Essa situação desagradável me lembrou Luis Inácio em seu primeiro ano de mandato, quando dizia que iria ensinar os pobres a pescar o peixe, ao invés de dá-lo, apenas. Portanto, nada de falar mal de Luis Inácio, nada de culpar a situação que aí está, porque foi sempre assim..., que o povo é leviano e mal informado..., que eles adoram a pobreza remediada de 2 em 2 anos, etc, etc...


Nossa burrice antropológica, de certa forma, analogamente, muito deve à esperteza ibérica. Isso é apenas uma nota de quem está ansioso para ler 1808.


Eu não aceito isso, tão repugnado que estou. Mas aconselho uma coisa. Nada digam, nada façam. Deixem por enquanto tudo na conta de Luis Inácio.

Primeiro a fome, depois o caderno. Tudo vai mudar para melhor.

Por favor não façam nada, nenhuma iniciativa nessa hora iria ajudar, seria um desastre.


Vejam que fanfarronice antagônica a minha.

Tanto acredito que Luis Inácio dê cadernos como acredito que nossos nobres próceres tomarão imediata e resoluta decisão de acabar de vez com o curralzinho político. Em que pese haja vozes dissonantes com o acontecido, tanto de quem logrou êxito nas contagens como nas de quem passou por ``babaca``, fico fazendo de conta que Luis Inácio será mais efetivo e rápido nessas soluções, porque aqui, os `` babacas`` tendem a aprender a lição dos mais espertos.

Confiram daqui a um tempo.

Entenderam, né ?


Post factum, visto que seria de lógica aguardar as gerações se renovarem, tudo vai por água abaixo, porque o dano não aflige, mas atinge a todos. Não aflige porque burrice de miserável é um misto vagabundice-masoquismo. Deve ser gostoso, penso. Como essa neurose antropo-sociológica é alimentada pela pobreza de espírito – média da maioria dos que estão na média, é melhor esperar Luis Inácio e acreditar em mula-sem-cabeça.


Nem todos tem tanto dessa pobreza de espírito. Só a maioria, que é o que basta.

Eu e mais a minoria fazermos côro, é como um cão latir para a lua.


De tudo isso há o que deduzir. Muito aliás. Mas fico com essa: que gente corajosa, que covardia a nossa.


Calem-se, por favor !





Teobaldo Mesquita

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ensaio.

Ensaio de um romance epistolar ainda em construção.
Não há título e as cartas ainda não são assinadas.
A idéia, porém, é bem concreta e latente em mim. Haverá contornos por certo no caminho.
Ainda também não soube situar as personagens. Não em local, mas no tempo. Isso determinará, certamente, uma obra extremamente ficcionista.



Varienka, minha querida amiga. Anseio por saber como tens passado. Graço de saber por Makar que recupera a debilidade já neste início de primavera por teus lados. Não diferente do verão que tivemos, o outono chegou instável, com menos frio possível, com variações de temperaturas, muitas chuvas, e sim, alguns dias frios, muito frios mesmo.
Se pegarem por aí, de ti, as cartas que te escrevo e mais as que escrevo a Makar, e sabendo agora que não deixas para ti mesma cópia das que me escreve, imagine....que emaranhado seria no pensamento de alguém... Até poderiam entender do que falo, fazer idéias de minhas rasuras e complexos que manifesto nos papéis, mas como, como...sem saber o que me respondes. Daí sim, estariam a refletir. Quem é ? De que longínquo país este escreve ? É que vosso tempo não é o nosso, e vice e versa, e mais..., aqui é verão, aí inverno, aí saraus festivos ao relento, aqui shows musicais de grande magnitude, aí floreiros nas esquinas como alta função, aqui as pedimos por telefone ou ao computador... Tudo muito engraçado. Aconselho que guarde bem minhas cartas.

Sei que preciso encontrar maneiras em palavras, ou palavras de maneira que faça entender, tal é a distância que nos separa e o tempo como que num tubo afunilado, num caleidoscópio de verdade. E mais a dificuldade acentuada que percebi em Makar, por quem, sabe bem você, tenho afetuoso carinho, um velhinho muito querido e muito entendedor das coisas da alma humana.

Poderia falar muito de vosso Rei, de vosso país. Mas deixe, as coisas se darão ao tempo. Queria mudar, queria chamá-la de você, como a Makar também. Tomarei essa liberdade cuja correção aceitarei com humildade e respeito. Como dizia, o Rei de seu país poderá sofrer muito, então muitas coisas se darão, dentro de um padrão de pensamento de sua coletividade, que ama a terra, já vi isso, já há muito que percebo. Parecerá natural, mas correrá sangue, e novos tempos virão, mais sofríveis, tenha certeza. Deixemos isso por hora.

Vivemos aqui numa democracia. É quase falsa, de falsete melhor diria. É o governo do povo, que elege seus representantes em votações. Temos uma Câmara e um Senado. Eles criam leis e ratificam ou não atitudes do Presidente do país. Estamos agora, porém, em época de eleições das unidades do país, os municípios, as cidades. Muita pachorra envolvida é o que alguém de fora diria se visse o desinteresse da população. Porque desde que vivemos a democracia, fazem pouco mais de 20 anos, amargamos dia-a-dia escândalos de corrupção e uma impunidade que atordoa o povo todo.

Minha querida amiga. Estou me preparando, como devo ter te contado por alto, para uma empreitada de um novo trabalho, de uma nova atividade. Deixarei as estradas, as viagens, meus clientes. Esse tempo está se aproximando. Há um medo, sim. Um medo de mudar. E há, de mim, uma ansiedade exposta, que notam as pessoas. Por isso, despeço-me com carinho e recomendo Mákar. Voltarei a escrever assim que puder. O tempo será de agora em diante mais inimigo do que antes. Mas jamais esquecerei de vocês. De tudo. E quanto que temos para falar, não é mesmo ?


Maio/2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

Meu aniversário.

Meu aniversário



Andei às voltas nos últimos dias com o meu aniversário. É que uso o site de relacionamentos orkut e resolvi aderir a um aplicativo onde você anuncia os seus eventos e dirige convites aos amigos. Como além de cético em muitas coisas me acho muito azarado, imaginei que aquela coisa não fosse funcionar comigo. E funcionou. E eu comecei a ficar preocupado.


Costumo fingir que comemoro meu aniversário com os parentes. É assim todo ano. E logro todos eles. Eu os pego pelo mais baixo nível de sentimentalismo. De que estou ficando velho, que tanta coisa há por fazer, que essa vida é ingrata, que as coisas não se resolvem, etc, etc.


Além dessa minha tática funcionar, porque todos me enchem de carinho e presentes interessantes, trato-os como trata Fomá, de Dostoievski, aos seus. Crio armadilhas para chamar a atenção e olho com severidade para alguns, de forma que nada me escape e que eu tenha naquele dia uma noite tranqüila de um deleite de guerreiro vencedor. E é assim que acontece. Rio sozinho no fim. Que maldade.


Agora me vejo cheio de pudor e preocupações. Preciso personificar alguém e criar fatos novos para suportar meu aniversário. Detesto essa cronologia progressiva, que muitos vêm como o caminho sem volta para a morte, quando eu, tenho tanto a fazer. Paradoxo é comemorar o caminho para a morte. Sou pelo fim dos aniversários.


Como fico cada dia mais moço e orgulhoso disso, invisto mais e mais na penteadeira de minha mulher atrás de cremes. Da horta de minha mãe, a babosa. Sou um metrossexual.

Vê lá. Eu falei metrossexual.


Além desses atributos eu pratico meditação. Mas nenhuma das ensinadas pela tal Ana Maria Braga ( é isso, né ? ). É uma técnica milenar egípcia, nada retirado de almanaques. Ah...Adotei o hedonismo também. Para quem acha que o hedonismo é coisa de gente rica, enganam-se. Sou pobre que dá dó. Sou um hedonista-vagabundo. Só porque contei bilhões de dólares é que fiquei com nojo de dinheiro. Não acreditam ? Fiquem com seu ceticismo. Contei, sim, bilhões de dólares.


Não pensem que todo hedonista precisa de dinheiro, que precisa ser milionário. Até porque esses não são hedonistas na integralidade pelo desassossego de ganhar e guardar dinheiro. Eu não. Pra mim, até sexo é prazer. Estão me achando louco ? Não....Vocês não entenderam. Pratico o sexo ``em sendo`` um hedonista. Tiro prazer de tudo. Inclusive de olhar ``coisas`` pela minha janela. Principalmente de rir de certas pessoas.


Mas....o aniversário! É disso que preciso me ocupar agora. Sei que sou um cara estranho e que tem medo de pessoas. Mais ainda se imaginar que no meio de pessoas estejam meus credores, ou pior, inimigos disfarçados.


Decidi que quero todos aqui, ao meu lado. Sirvo um pão com quibe e compro algumas latas de cerveja e fingimos que está tudo bem. Suspeito até, lá no fundo, que alguém declamará poesias para mim...Suspeito também que todos, ao invés de me darem presentes, farão uma doação em dinheiro.

Nada de balõezinhos no teto.


Uma cítara tocando... Jazz... Música de piano...

Ainda não sei...


Tratá-los-ei como diplomatas de outros países.

Ou melhor. Calo-me para ouvir o que todos dizem.

De repente até saio. Antes, porém, sirvo bebidas para ninguém perceber minha retirada.

Ficam com as cervejas e o quibe, e eu vou atrás de mim.

Meia-hora depois, um pouco mais, talvez, eu chego de volta. Já será tempo de notarem minha falta.


Em eu chegando, todos se levantam.

De repente reconheço algumas pessoas e desconheço outras.

Vem-me alguém de muita idade, um velho homem, e me diz:


-Abriram seus presentes...

-O que está acontecendo, pergunto.

-Deram-te tijolos embrulhados.

-Por que ?

-Todos entregaram dinheiro à tua menina.

-Por que, uma vez mais pergunto.

-Não sei. Ninguém demonstrou piedade por ti. Estão assustados, no

entanto.


Como num pesadelo, observo a todos. Mulheres, uns poucos homens e algumas crianças. Um senhor meditabundo, altivo, porém, olha rindo para o chão. Medita o riso. É um caipira.

As crianças que não se assustam mais com o pateta aniversariante voltam às rodas e correrias. As mulheres não ousam me encarar. Enquanto umas dispersam o olhar pela casa, outras dissimulam conversas ordeiras e críticas.


Levanto-me calmamente e dirijo-me à porta. Olho para a rua inundada por um céu escuro de nuvens. Um réstia de sol no horizonte ainda há. Uma réstia muito pequena e inútil.


Tentando recobrar-me, dou-me com uma criança, uma menina esguia e com um rosto de luz.


-Vai sair de novo ?

-Vou ao portão.

-Ainda espera alguém ?

-Não.

-Por que vai ao portão, pergunta-me a menina.

-Não sei...É preciso que o portão fique aberto...




Nunca acreditem em mim. Sou um arlequim de mentira. Um arlequim que mente muito.

Abracem-me. Preciso disso.








Notas esquizofrênicas de rodapé

É penteadeira ou cômoda ?

O nome Ana Maria Braga é mera analogia ao que há de ruim.

Desconsiderem, portanto.

Se considerarem, no entanto, desconsiderem-me, por obséquio.





Teobaldo Mesquita

teobaldomesquita@uol.com.br

sábado, 6 de dezembro de 2008

Vista-se do Inconsciente.



Todos vivemos fases em nossas vidas. Algumas duram pouco, dias apenas. Outras, a gente incendeia, incandesce para que valham mais prazer, mesmo que seja de sofrimento. Paradoxo ? Pois é....Vivo de uns dias para cá uma fase de aceitar a filosofia intrincada de Dostoievski de que o sofrimento é causado pela consciência. E essa é a fase que vivo. Não em plenitude total, não de se construir conscientemente, nem de gozar a anarquia do que não é certo.
Daí que assim como tudo está, não dá.

Vou fisgar agora alguma coisa de François Voltaire, de seu Candido que fica impressionado com um mundo rústico que não conhece. Por hora, -e falo do tempo desse grande pensador-, interessa apenas o amor de uma mulher. O desarranjo que a vida lhe oferece dá-lhe prazer para viajar o mundo todo atrás de sua amada, ao passo que a consciência despertada só não lhe faz tombar porque seu amigo filósofo insiste em incutir em sua mente a idéia de que precisamos cultivar nosso jardim.

Ai, ai, ai, meu jardim.
Ficar a pensar no que Dostoievski incutiu em mim não resolverá esse estágio de pura neutralidade emocional. Estou neutro, completamente absorto e entediado com tudo e com todos. Se recobro a consciência por instantes, caio de pena de mim mesmo em viver em meio de tanto lamaçal, de tanta baixeza do ser humano, do meu próximo, do meu bem próximo de mim.

Precisarei me vestir do mais inconsciente para suportar, além do poço fundo, a inconveniência intrínseca dessas pessoinhas que não entendem do embate de idéias.
Broncos, não passam de broncos. Caipiras assanhadas. Gente reles e sem cultura.

Me esforçarei em tender mais para o inconsciente para não ter que analisar os créditos que me vêem de pessoas de minhas novas relações. Que insistem em tentar provar, com certa razoabilidade, de que o sufrágio popular recente configurou-se à uma moda monetária nas últimas horas que antecederam o `` festejo democrático`` .
Preciso assim, destruir dentro de mim a utopia de que a consciência coletiva – se é que ela existe, é como tentar domar sozinho uma tropa de cavalos selvagens. Vejo, então, que isso não existe, que é pura balela, uma ingenuidade minha. Que bobagem essa de consciência coletiva.

Viver, portanto, do inconsciente nestas horas, é sair indene para se ver lá adiante o que resta da digestão dessa sopa de pedras.
Nada de ilusões, nada de possibilitar grandes ajustes, nada de se imaginar um léu resolvido ou se resolvendo. Fico assim, comigo mesmo. É preferível as cavernas às moradias inundadas de saber duvidoso e onde se planta maldade aos montes.
E afinal, pergunto agora eu – por que estou me cobrando dessas impressões horrorosas, se o que vi, o vi de frente, assim....sem possibilidades de fugir, sem resoluções imediatas, alimentando-me para me superar do próprio hálito fétido da ignorância.

Se o que vi foi a pobreza em dois estágios.
A pobreza espiritual portentosa aos olhos dos pobres de pão, de casa, de letras, de saber.

Resolvido assim em resignação, desisto.
Nunca poderei atacar, tanto menos ajudar a criar um novo espectro.
Desisto para viver e vestir-me do inconsciente.





Teobaldo Mesquita
http://www.pacotedecronicas.blogspot.com

teobaldomesquita@uol.com.br

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Amor inexausto.

Amor inexausto.



( ... )

Não é difícil,

embora muito...

Difícil, se incipiente,

fácil, se pendente,

pendendo...


É circunscrito,

é decidido,

é tesura,

é sentimento...

Enervado,

elevado...,

de sentir, mesmo.

Não se explica,

é difícil.


Amor é indefinição,

aceitação,

é o lúdico da alma,

é exagero do coração.

É água parada,

que desce dum penhasco,

turbilhando tudo,

quebrando nada.


Amor é um pontinho aqui,

por aqui fez ninho.

Dói às vezes,

é egoísta,

por isso, altruísta.

Amor é um pontinho aqui,

um pontinho lá...


O Amor dá o egoísmo ao diabo,

de Deus suga o orgasmo,

orgasmo da pureza...

São de altezas,

almas que se amam,

que se doam,

mesmo sem quererem,

por tudo poderem...,

quando tudo podem.

E podem...


São de sons,

os amores.

Tênues,

nos pelos de teu rosto,

amor...

na pontinha da orelha,

amor...

Para tudo aponta,

assim, assim...,

É o céu,

tudo arredonda,

tudo arredondado,

tudo rumo ao céu...


É uma nuvem,

uma catarata,

uma crendice,

uma babaquice,

qualquer coisa séria,

nada séria,

séria, porém,

também...


É um cataclisma,

é cisma,

de só querer.

Muito. Só.


Veja,

não vês nada ?

é isso tudo...


Fusão de almas,

infusão de calores,

abraços,

corações.

Abraços inexistentes,

por isso, insistentes,

nuns tempos..., insistentes,

e, ficam para sempre...


Olha a janela,

espreita...,

Amor é porta estreita,

larga, farta...

Entra..., agora...,

para dentro de ti,

vês ?

Que tudo inexplicável...

vê quanta variável... ( ? )


Nada é meu,

tudo é teu.

Convexos paradoxos,

inentendíveis ,

é assim o amor,

não sei explicar...


Amor é sexta-feira,

é sábado,

depois de sábado é amor.


Amor não tem saudades,

amor morre de saudades.

Saudades verbais,

imorais,

feitas no portão,

de amor,

de tesão.

Inesquecíveis saudades...


Amor não mede esforço,

e,

não faz esforço.

É porque é.

Grácil,

fácil,

indelével,

depois do Alfa,

e,

antes do Ômega.

Infinito,

inatingível,

por tanto disso,

é louco,

estranho,

bom.

É assim o amor,

não sei explicar.



Teobaldo Mesquita.



sexta-feira, 6 de junho de 2008

Eu sou exclusivo.

Eu sou exclusivo.




Sempre me achei exclusivo. Exclusivo para mim mesmo, exclusivo para o que recebo, exclusivo para o que produzo. Minhas namoradas e amantes eram exclusivas, meu talão de cheques era exclusivo e eu tinha um amor exclusivo, também. Tudo em mim é exclusivo, incluso implicitamente, exclusive a galhofa e a vulgaridade. Em parte, lógico.

Por isso sou eu mesmo, por isso não concordo com todo mundo, por isso tenho minhas idéias e por isso me viro nas horas difíceis. Se Deus existe, ele me deu exclusividade em quase tudo, inclusive quando me faz sui generis em situações delicadas.


Porque sou exclusivo muita gente não me gosta, muita gente se afasta de mim, muitas pessoas me desviam, como o diabo desvia da cruz. Eu rio sem parar, dou de ombros e me acho nessas horas mais exclusivo ainda. Se eu for parar no inferno depois de minha morte terei uma exclusividade por lá. Não tenho dúvidas disso. No céu, então, muita exclusividade e muita mordomia.

O problema é que a exclusividade nas coisas da vida causa muita inveja. Inveja e mau-olhado. Mesmo judeu, não acredito em mau-olhado.


Há 44 anos sou exclusivo de meus pais, sou o queridinho da mulher, sou o amado dos filhos e tem gente que me adora. Criei uma marca – talento também se forja –, e em muitos tempos tive a minha patota. Até hoje ainda tenho. Mas corro sério risco de perder uma boa parte deles. Não perderei, porém, a exclusividade.


Quando chego a esse ponto é porque o veneno já me desce pelas beiradas da boca. Ando babando veneno. Ando seco e ardiloso, ando querendo muito ser mais exclusivo ainda. Minha tática nunca falhou, por isso tenho certo que serei o preferido de alguém.


Na vida estou sabendo esperar por tudo. Não sou um insolente que deixa ao léu o dia de amanha. Programo todas as minhas maldades e caridades, cronológica e cirurgicamente. Não que eu seja detestável, não. Aqui, lógico, estou falando comigo mesmo....Sempre me achei no dever e manifesto nas penas minha sina de salvar o mundo. Duvido que aja alguém como eu. Daí a exclusividade. Até nisso.


Algumas retratações que achava certo exigir já não se fazem necessárias, e assim sorvo dia-a-dia, com a alma principalmente, o enredo dantesco que se desenrola à minha frente. Rio mais ainda. Disse dantesco porque foi o único termo que encontrei. Aqui não vai nada de pejorativo.

Dante é Dante. Eu sou eu, e os outros são os outros.

Tudo isso é uma explosão de vaidade pessoal, meu lado exclusivista.


O ineditismo que pode transparecer daquilo que escrevo vem de muito tempo comigo. Só eu sei. Pouco(a)s partilharam. Minimamente alguém poderia suspeitar. Para a ralé da intelectualidade eu só quero afirmar que sou eu mesmo, aquele pacato cidadão ensimesmado e orgulhoso.


Agora na política partidária, então, puxa..., quanta munição trocada. Vem chumbo e vai chumbo. O que mais gosto, porém, é fazer análises. O Solda que conheço há quase 30 anos é mais inteligente do que imaginava, ninguém bate ele no momento. Alguns ultrapassados, ultrapassados mesmo, não sei de onde surgem, se após beber alguma poção inebriante ou após acordar de um sonho pueril se arvoram em ganhar créditos vencidos há muito tempo. Como tem gente corajosa na política.


Sem esquecer da minha exclusividade em tudo, ganhei exclusividade em muitos aspectos. Talvez um dia seja o Rasputin, o líder espiritual, o mago do pequeno palácio ?

Ainda procuro alguma ocupação exótica, ou digamos, surreal, de onde eu me possa ver a mim mesmo. Minha exclusividade, meu ``eu`` cheio de si mesmo quer ser um Fomá Fomitsh, um Golbery do Couto e Silva. Ou um misto dos dois.

Não sei como começou a vida pública de Golbery, mas de Fomá já tenho em mim e para mim algo bem verossímil. Um servo bôbo. Depois vem o melhor. Sempre depois vem o bom da coisa.


Por enquanto coleciono antipatias, o que não deixa de ser uma exclusividade. Eu adoro isso. Quer se alistar ?


E não arrasto ninguém para minhas idéias. Isso pode me tirar o pleito de ser sempre exclusivo. Concorde comigo, no máximo, e paramos aqui. Faça o contraponto e a guerra estará formada. Nas penas, até hoje nunca encontrei opositor. Ao menos por aqui. Mas eles existem. Pelos cantos.


Eu e mais eu reinamos absolutos.

Viva a exclusividade.


Obrigado.






Teobaldo Mesquita

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O laicismo somente....

Faz mais de um século que o Estado Brasileiro separou-se da Eclésia, com quem não deixou de se relacionar promiscuamente à época do Império. A Velha República, no entanto, e até o período dos generais não foi por assim dizer um estado laico. Somente com a generosa e perniciosa Constituição de 1988, que quase ninguém conhece e que é um elemento ainda jurídico, o Brasil deixou de privilegiar uma religião em detrimento de outras crenças. Em suma, até bem pouco tempo ainda estávamos debaixo da barra da saia do bispo.


Portugal, a pátria-mãe, não esgueirou-se nem se privou da onda inquisitorial, que era uma troca de favores e de poderes. Após o batismo em massa ocorrido em terras portuguesas, o ``Santo Ofício`` esteve diversas vezes no Brasil na sua caça às bruxas. E perseguiu gente, e matou gente, foi gente ao calabouço.


Nós, que estamos em 2008, em pleno século 21, ainda vemos a ira fanática de muçulmanos contra os males do Ocidente. Se a ignorância é deles, não deve ser nosso o desrespeito para com eles, com seu Maomé e seu Deus, que, ecumenicamente é o mesmo comungado por cristãos, judeus e muçulmanos.


Quando da morte de João Paulo II, criou-se uma acalorada discussão no país mais secular do mundo, berço do pensamento moderno e guardião das liberdades do homem. A França. Pois naquele episódio o que se repeliu ferozmente foram os atos de decretação de luto oficial pela morte de um líder religioso em desrespeito a todos os outros. Lógico, não era um desrespeito pretencioso. Ao contrário, o governo francês justificou-se de que a norma era para com o Chefe de Estado do Vaticano.


É essa a leitura secular. Na essência, judeus, cristãos, muçulmanos, hindus, budistas, espíritas e de outras crenças são exatamente iguais perante o Estado, seja para cumprir seus deveres, seja para reclamar seus direitos.


Então, e assim, quantas teses aportarão ao STF, aqui no Brasil, para barrar a decisão do colegiado de liberar as pesquisas com células tronco ? Quantos enunciados virão por defender a vida já concebida e que morre com a retirada dessas células ? Não sei, mas certo que muitas haverá.


Os analistas jurídicos – e ainda não ouvi nenhum jurista renomado - , afirmam que a decisão, embora controversa, foi de caráter eminentemente legislatório, acima de paixões e crenças, em que pese ressalvas de alguns Ministros de profissão católica. Duvido, assim mesmo, que nos bastidores da histórica decisão não tenha havido controvérsias. O que se pôs em frente à partir da decisão – é o que dizem esses analistas que referi – é o estágio da intromissão do Estado na vida individual. Embrião, feto, nascituro, criança, adulto. Garanta-se o direito à vida a todos os estágios, menos ao embrião, é o que se proclamou.


Como a própria ciência não afirma que tipo de vida há no embrião, embora e em tese afirme que há, a decisão foi pilatiana. Nenhum arranhão em Pilatos, nenhum arranhão nos Ministros do STF.


E se lavaram as mãos, impressão que ficou, o Estado laico lhes permitiu esse custo brando e leve, essa prerrogativa livre de amarras.


Se alguém vai jogar no fogo do inferno a decisão irrecorrível são as religiões e as igrejas.


Como não tenho condições de opinar, pergunto.

Eles vão para o inferno ou não vão ?








Teobaldo Mesquita

teobaldomesquita@uol.com.br