segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Que Doce.

Que Doce !


Esse vento do norte,
tempo de sorte,
céu de brigadeiro,
mas com vento,
no intento,
do entanto.
Casamento de viúva,
casamento de espanhol,
veio aos poucos, o sol.

Já nem tudo cinzas
Tenho visto pintas
Não são tintas
Tenho corado
Ficado corado
Vejo um rosto rosado
Parece-me, foi-se o enfado

Vento alado
Do norte da sorte
Foi-se a morte
Veio um sol
Um grande sol

Que queima, que magoa
Que magia
Que fantasia
Tempo de ousadia

Quimera
Nova era
Quisera
Muito mesmo uma nova era
Pudera
Quem dera

Queimou,
Magoou
Vermelhou
Voou
Vôo raso
Vôo fato

De fato, em mim
Novo sim
Sem fim
Enfim
Prá mim

Mereço
Benfazejo
Mereço.

Mereço
Espesso
Largo
Dado
Fácil, dócil,
Doce.

Dado e amado
Nunca fácil
Sem ser dócil
Nunca fútil
Sempre útil
Sempre doce

Que doce
Sempre assim fosse
Por mim, sempre
Para sempre
Um presente

Perene
Que fosse.
Condoído, ainda
Que fosse.
Meio amargo
Que fosse.
Escarlate vivo
Que doce.
Mel doce
Na boca
Que doce.
Longe de mim
Que fosse.
Perto de mim
Melhor que fosse.
Para mim
Sonho doce.

Que fosse,
Que fosse,
Que fosse.
Em mim, de mim, para mim, comigo
Sempre...
Sempre doce !


Teobaldo Mesquita

sábado, 22 de agosto de 2009

Amor e espiritualidade.

Amor e espiritualidade

Tema fragoroso. Tema controverso. Um tema de sempre.
Só compreendo a figura de Jesus e dos santos da igreja a partir da espiritualidade. Não me refiro aqui à seita dos espíritas, ou dos espiritualistas. Sou bem franco, acho que vida é espírito e a essência mais profunda é a alma, embora intocável. Se não, indelével, no sentido de que pulsa. Mas, autônoma, porque divina. Claro, não posso afirmar que a alma não esteja afeta aos enleios do espírito. Até porque é nossa residência, até porque penso e creio seja nossa morada junto de Deus. Mas como também penso que a alma seja inata de deus, penso ter ela uma barreira de proteção, algo que não se desprende do Criador. Nossa alma, portanto, não é só nossa, mas de deus também.

Esta, no meu ver, em meu pensar, é a única maneira de se admitir a existência de um deus bem humorado, bom e paterno. Ou materno. Há divagações antigas sobre a feminilidade de deus, de uma possibilidade que não sei avaliar agora, e que talvez nunca conclua, senão quando conhecer à deus.

Mas não quero continuar por esse caminho. Não é a intenção. Até porque logo surgirá a pergunta do por que deus nos deu massa e vida animada para habitar um planeta.

Fiquemos, portanto, no espaço do planeta, e falemos de amor. Do amor entre duas pessoas, e do amor de uma pessoa para com o mundo todo. Mas para entrar nessa seara não menos complexa, preciso lançar uma pergunta. O grande profeta Jesus, o maior de todos que a história registra, teria tido o amor completo, e a sua morte agoniosa teria sido o complemento desse amor, ou foi sua morte o fogo de purificação para aquele que se fez homem ? Não seria o sacrifício das humilhações, o arrastar de uma cruz, e por fim o golpe de uma morte lenta e vexatória uma mostra de que nossos percalços e sofrimentos são o que purifica o espírito, para que este esteja de acordo com a divindade da alma ? Ou tudo isso, se verdadeiro, seria uma grande brincadeira, uma exacerbação do amor próprio de deus.....(?)

Já inicio uma quinta linha e concluo que fugi por inteiro do que havia proposto a mim mesmo escrever. Teria Deus tomado minhas mãos por sobre este computador para escrever isso ? Não estou sendo sarcástico. Apenas estou dizendo o que sinto.

Então voltemos à vaca fria. Não permito nenhum pensamento que vá ao contrario de que para mim uma grande verdade é que o amor entre duas pessoas começa pelo amor a si mesmo. Disso, Jesus falou claramente. Muitos gostam de ouvir isso para justificar a si mesmos a podridão do acúmulo de riquezas, ao passo que continentes inteiros passam fomes, privações e pestes. Ah..., e tem as guerras também.
Não há como se desapegar de palavras justas dos profetas e de Jesus. O templo do Senhor está dentro de nós mesmos. Pois eu acredito nisso e me preocupo com essa busca, parecendo já haver encontrado-a.

Vivi uma fantástica experiência de almas, que transferiram para o espírito a responsabilidade da prática do amor. Vivi, – e aqui um hiato apenas para dizer de meu orgulho - , de conhecer um espírito leve, puro em grau mediano, e suficientemente disposto a amar. E seu deu por um bom tempo um entendimento de trocas, de respeito, de oferecimento. O canal era espiritual. Até os dias de hoje revivo em minhas meditações essa franca e tão fácil possibilidade de amar.

Cheguei no ponto. E graças....ainda não falei nenhum ” eu te amo “ ...

O ponto para mim, aprendizado de uma escola filosofal, é viabilizar os veículos proprios. Isso mesmo....como um veiculo de um medicamento. O transporte, a carga de amor, de dedicação e de oferecimento precisa de uso, persistência, pratica e higiene. Engraçado ? Riamos, então. Rir para depois chorar, e depois pensar. O estado passivo de um ser em meditação, desde que em ambiente apropriado, é a oração do canto do quarto fechado.....Mais palavras de Jesus...

Aquilo que falo não é coisa fácil, embora explicado pareça como descascar uma banana. Antes de mais nada é preciso disposição anímica, é preciso querer.
Recapitulemos, então. Alma. Essência de Deus. Espirito, vida. Massa corporal, uma pequena e frágil maquete. Se a maioria das maquetes vaga – e vagam – ao sabor das aventuras e desventuras, é necessário que elas tenham uma espécie de marco zero. São as igrejas, as seitas, os movimentos. Embora os orientais, especialmente chineses, indianos e vizinhos seus tenham seus templos, não é da mesma forma que eles correm aos templos. A prática da espiritualidade deve estar em nós mesmos. E eles parecem agir assim.

Quando referi uma experiência pessoal, muitos devem ter concluído que tudo não deu em nada. Pois parece mesmo. Mas não é assim. Uma vez a disposição para o amor, a dedicação, e sim, o uso da espiritualidade, não parece e nem precisa findar. Vê-se com o tempo a necessidade de afastamentos. Aqui, é de se concentrar para não confundir as coisas. Fatores exteriores podem influir, e influem. Uma coisa não justifica a outra. Porque amor é plantio. E plantio gratuito. E quem se dispõe a plantar uma flor, planta duas, três, quantas as forças permitirem. Por isso, em amor, não há fim, não se fala em fim. O amor estabelecido, é apenas ou tudo, e em tudo, amor. Ele se basta.
O amor pessoaliza ? Sim. Quem disser que não, mente. Nossa massacrada maquete e os afetos de nosso espírito pessoalizam, e muito. Um amor pessoalizado direciona, dirige, pede, dá, exige. A sexualidade e a vida em sociedade ficam em secundaríssimo plano. Não há nenhum mal nisso, desde que o amor seja mesmo amor e não posse.

Falei tudo isso, ou só isso, para exprimir o que penso de espiritualidade e amor. Os dois fazem um casamento perfeito. Um feito para o outro. O problema, a questão, é que a maioria das pessoas não vão ter esse entendimento. E mesmo quem a tenha poderá ver-se desvirtuando a concepção no envolvimento com o mundo exterior, esse dos nossos dias. A meditação e a contemplação repetidas e praticadas à exaustão e sem fins individuais, dominadores e maléficos, é a oração que purifica o espírito. Quem a experimentar viverá dias de milagres em suas vidas. Mas há que se lembrar que o fogo da purificação existe por uma complexidade de fatores, que muitas vezes fogem de nossa compreensão. `` Viver no deserto, também será necessário`` .

A vida do espírito tem bem mais que o poder de amar. Não seria preciso dizer isso. Porque amar, é desejo de nossa maquete e de nossa alma. O espírito realiza. Viva espiritualmente para descobrir os segredos da vida !

Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br

Carta a Paullus.

Carta a Paullus


Nao me surpreendi quando este fraterno amigo referiu sua admiraçao há pouco tempo numa audiçao pública, da preocupaçao de algumas pessoas que temiam sentirem-se preteridas do uso do novo centro catequético, ainda em construçao. É bem possível entender tudo isso, e digo tudo isso porque há muito de complexo. Te falarei o mais amiúde possível do que penso dessas reaçoes, dessas verdadeiras incongruências sociais. Isso...vivemos incongruencias sociais...
Primeiro, é preciso que se diga que não temos uma identidade. Tudo virou um "poço de Bagé" . Faço essa alusão de um termo gauchesco, para me fazer entender de que o dinamismo é uma consequencia muito nova, bem mais recente, democratica até. Mas nao é aí que reside a problematica. Quando a propria igreja católica referenciava nossa identidade, e aqui lembro de um fenomeno que está ocorrendo na Rússia com conversões em massa e retorno aos cultos, a nossa vida passava por caminhos, digamos, mais seguros. Repito. As coisas mudaram numa configuraçao dificil de entender, mas o bojo do que quero dizer está de permeio a tudo isso, e remonta a tempos, que ao menos eu, lembro ainda de criança.
Somos todos, no mínimo, por assim dizer, toscos. Toscos e despreparados. E arrogantes também.
Há, de fato, uma aura sobre todos nós daqui, que paira, sei deus desde quando... Já usei tempos atrás esse termo ""aura" para designar aquilo que me parece todos nós carregamos em nossas almas e que está estampado em nossos rostos, e também em nossas atitudes. Se o caldo entornou nao sei, mas o que sei é que esse peso, muitos de nós ainda carregam. E ele custa muito. Esse peso, redundantamente nos põe a nocaute, tamanha é nossa inércia. Caminhamos como pamonhas. E nem sei o que é pamonha..., mas acho que é por aí.

Aqui, é proibido ser o que se quer ser. Porque o que vale de verdade é ter. Mas ter para si. E só. Mas há que se regredir mais para trás. Nossa miscigenaçao européia trouxe no dna o medo e a crença de fantasmas. Opressão em cima de opressão. Nossos caboclos, descendentes de bugres e negros eram "" camaradas"" - para referir um termo russo - , dos portugueses maus e bandidos. Porque quem ia campo adentro eram bandidos tirados das cadeias lusitanas. Aqui, reside o inicio dessa problematica, que resultou numa neurose, que é dificil de entender como se formou. Só pode ser aqui, porque antes tudo se resumia à selva e alguns indígenas.

Os populares, os mais antigos, especialmente, lembram de certa passagem de Joao Maria, combatente da guerra do Contestado, e que tinha fama de santo e curador, e que passando por Rio Azul passou o olhar pela terra e a amaldiçoou. Eu acredito em maldição. Pode ser que sim, pode ser que nao. Se voce acredita em maldiçao, deve saber como eu, que ela se perpetua de geraçao em geraçao, no mais abominável ato desumano e contra as regras da natureza.

Acho que estou chegando no ponto crucial. Em que pese o rigor de uma igreja casada com os governos haver dominado muitas pessoas por aqui, há um elemento antropológico que nao pode ser desconsiderado. Os coronéis. Isso...Eles comandavam a economia do Municipio, e estabeleciam regras sociais até aceitáveis, embora o relho, o chicote estivesse sempre à mostra. Quer saber o que penso disso ? Que uma sociedade precisa de um referencial. É mais ou menos como vivem as pessoas em favelas dominadas pelo trafico de drogas. Recebem proteçao e tem garantia de lazer, vida social e de outras iniciativas. Pois quando o mundo vivia nas décadas de 60 e 70, o que a França já experimentara há mais de 100 anos, aqui nós ficamos desprotegidos dessa elite, que ao ver os pinheiros se acabarem, foram embora. Pode residir aqui a questão neurótica que repercute nos dias hoje ainda.

Desamparados dessa forma, surgiu na década de 60, da qual eu faço parte, a pior geraçao naquilo que se refere às iniciativas, que hoje sao pomposamente chamadas de labor solidário. Surgiu ali a nossa caipirice, a nossa escancarada covardia, o medo que ainda hoje temos das pessoas e formou-se uma cultura individualista e até bruta. Bruta no sentido daquilo que já disse o que somos. Toscos. Enfim estávamos livres de alguns dominios e prontos para a selvageria. Voltamos naquele momento da historia à Idade da Pedra. Pois só como exemplo, lembro da imensa dificuldade de uma diretora de escola em dominar seus alunos, que mais pareciam animais famintos e selvagens. Entao, entre o tempo da palmatória e dos computadores, vivemos esse hiato desgraçado. Quer saber de uma das consequencias ? Hoje, um aluno de faculdade de medicina perde para quem há 50 anos atrás só tinha o madureza ginasial. Para um aluno de faculdade, hoje, a vírgula está mais para um simbolo paleontologico.

Os artífices dessa cultura que ainda se perpetua, também estabeleceram regras, sem chicotes e sem relhos. A de uma brutalidade ainda mais animalesca, que ofereceu e oferece ainda mais o medo. Disseminou-se uma ideia do contra o belo, contra a educaçao, contra as boas maneiras, e os velhinhos, seus pais, assustaram-se, como seus irmaozinhos passaram a imitá-los. Há um papel de fundo sexual nesse contexto, e que eu nao domino. Seria necessário um estudo mais profundo. As pessoas se isolaram e alguns grupelhos gritaram sucesso. E essa cultura é vivida até hoje. Sim. Até hoje.

Assim, quando o trem deixou de por aqui passar e o cinema entrou em fase de decadencia, até o seu fim, logo depois as sociedades do 14 de Julho e do Operário desmobilizaram-se. A tv chegou avassalando, o regime de 64 terminou, e nossos líderes, ou melhor, nossos rinocerontes saíram vitoriosos.
Que jogue em mim a primeira pedra quem nao teve medo de usar óculos escuros nas décadas de 70, 80 e 90, porque isso era uma afronta. Ninguém dizia isso, claro. Entendam. Ninguem o fazia, como muitas outras coisas eram abominadas. Por isso eu sempre repito em meus escritos. Aqui há tantos poetas e profetas trancafiados em casa. ..Porque essa maldita "aura" ainda hoje impera. Qualquer nova atitude, qualquer novidade é acompanhada de receio, medo, desconfiança, muita inveja e mal olhado. Pronto. Criei a teoria da turma dos rinocerontes. Eles sao os culpados, Paullus. Por isso, os irmaozinhos deles te perguntam....se seria sensato, mesmo sem haver contribuido em dinheiro, usar as dependencias do novo centro catequetico.

As elites que sucederam àquelas antigas, aquelas dos exploradores que prefeririam ser chamadas de extrativistas, é caótica, para dizer o menos. Não saíram à frente, nao lideraram, nada há em registro de memória que possa ser lembrado num clique de pensamento. Esta elite formada de umas poucas famílias abastadas e de outras que hoje podem até estar em alguma coluna social, apequenaram-se. Seu parco conhecimento é dividido com medo, e geralmente em barracas de pescarias. Vivem em casulos. Seus casulos certamente possuem alçapões, bunkers onde se possa esconder metais, moedas, títulos e talões de cheques. Se vivem felizes, nao sei. O que sei é que muitos nem usufruem das possibilidades que tem. E mais. No fundo também sao vítimas disso que chamo de neurose, daquele movimento rinocerontesco. Este é um(a) estigma.

Quer saber, Paullus, uma consequencia bem nítida de tudo isso ?
Já viveu uma possibilidade de acompanhar uma campanha eleitoral com grupos apartados. Estranho ? Claro que nao. Normal, normalíssimo ? Nunca. O que para os orientais é escola de aprendizado - o isolamento - , aqui é oficina de trapaças e artimanhas. Nao é de se acusar ninguém. É de chorar. É de se chorar muito. É de orar e laborar. Ora et labora. E de se ver no que dá. Tentar, ao menos. Neste aspecto, poucos grupos tem a independencia de mudar esse estado de coisas. A igrejá é um deles. Vejo em sua missão, Paullus de Indonesia, um desafio nada diferente do de Paulo de Tarso. Talvez até pior.
Só para terminar. Da missa, nao rezei nem um terço....

Daqui, de meu casulo, envio-te um fraterno abraço !



Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br

Publico ou privado....

Público ou privado, vai tudo prá privada.


Volta, FHC, volta.... Volta para criar concorrência entre as teles. Volta para privatizar o Banco do Brasil. Vende tudo. Do jeito que está, e que é como já esteve, não dá mais. Volta e vende tudo, FHC...

Fazem quatro meses que eu enviei uma mensagem eletrônica para o Dnit. Questionava alguma coisa à respeito de rodovias federais. Fazem quatro meses que aguardo a resposta. Deve estar na fila. Realmente, o Dnit deve ter muito a responder sobre rodovias federais.

Tentei, apenas tentei...Foi um contato com a Brasil Telecom. Opa, é OI...Nao deu em nada. Quase quebrei o telefone em mil pedaços. Deveria ter feito isso, afinal descarregaria minha raiva e isso só me custaria a indenização do aparelho, que não deve ser um absurdo de valor. Voces já sabem o que aconteceu. Não consegui falar com ninguém. Ou melhor, de fato falei com ninguém, pois quando alguém falou do outro lado eu perguntei se era um ser humano ou uma máquina. Fui mal atendido, e a ligação “caiu” . Eles me venceram. De novo.

Se FHC voltar, se Serra vencer, o que dá na mesma, tudo vai mudar. E nem estou falando de governo, de ideologias, de dogmas. Porque para vender o Banco do Brasil só é preciso ser pragmático. Mais nada. O gigante amarelo que se arrasta só muda com um choque. E um choque de gestão privada. Ainda falarão bem de Collor de Mello. Sentirão saudade delle.

Claro, nessa questão dessas empresas de telecomunicações o que falta é concorrência. Falo das de telefonia fixa. Porque parece que a gente tem um 21 na cabeça, mas nunca vê o 21. Não é mesmo ?
Cadê o 21 ?

Tenho uma namorada que tem um amante que é amigo de um espião de Serra. Ou seria contra-espião ? Não sei....Nunca sei se ela fala a verdade, mas me dá de bandeja algumas perolas. São os rabiscos de Serra, ou melhor, de FHC. Segundo ela, tem tinta de Bornhausen também. Nem tudo é um embuste, não pode ser. Muito do que me diz faz sentido.
Ela me falou que vão privatizar Brasilia. Que tudo lá será um grande presídio. Que já tem até comprador. Que muitos nem sairão de lá. Que um deles será batizado em homenagem a AC..., que o comprador vai ganhar uma grana “federal” , que a clientela é vasta, que quando chegarem os de agora, os lucros triplicarão, e que muitos deles poderão até plantar soja no entorno de Brasilia, e que isso acontecer, o dono dos presídios poderá instituir uma taxa extra de permanencia . Me disse também que o Congresso, da mesma forma, será privatizado. Isso. Que ao invés de pagarmos eles, eles pagariam para trabalhar. Que passariam por uma espécie de concurso publico e de provas. E que Zé do Sarney já fez uma proposta financeira para passar no concurso, mas que não garantiram nada a ele, e que tudo isso seria para ele dobrar a oferta. E que o mensalão foi a maior criação de Lulla. E que estão morrendo de inveja porque eles largaram na frente. E que vão institucionalizar o mensalao para garantir aos parlamentares o pagamento da taxa mensal de congressista, e que triplicarão as verbas publicitárias à Globo. Mas que quem não se enquadrar no mensalao, ainda existirá o mensalinho. E que cada beneficiário do Bolsa Familia receberá um cartão corporativo com o brasão da republica e com uma foto de FHC no verso, independente de quem seja o presimente, digo, presidente. Me disse ela ainda que vão negociar muito com Lulla, que exigirão que ele se filie no DEM, mas que a carteirinha dele será das antigas, das do PFL, com um carimbo “Arena” , e que a filiação será transmitida pela Globo ao vivo, com muita pompa, como o casamento de Lady Di, e que após isso, ele será nomeado embaixador na Inglaterra, mas que o avião desviará a rota e descerá na Nicaragua onde será recebido à principio por rajadas de metralhadoras por invasão do espaço aéreo, e que por isso contrataram um kamikase, mas que tudo acabará bem, porque afinal aquele teria pago uma polpuda taxa ao partido, e etc, etc, etc. E ainda. Que após um período incerto, mesmo com o conhecimento do novo governo, Lulla havia entrado no Brasil pela fronteira seca com o Uruguay e que vivia numa praia catarinense, respaldado por uma ex-senadora. Que havia homenageado Brizola ao entrar no Brasil fardado de policial, e que estaria disposto a dizer na primeira entrevista quando fosse perguntado por uma repórter, de que havia chegado ao Brasil vestido com as calcinhas dela. E que ele e a ex-senadora faziam planos para o futuro do Mercosul. Que sua historia e da de Brizola criariam as verdadeiras condições de prosperar o Mercosul e as relações do Brasil com os países vizinhos. E que eles sonhavam em criar uma espécie de caminho de Compostela, e que depois disso com as dificuldades de voltar pelo voto, eles se refugiariam no mais completo anonimato, e que isso aumentaria o mistério, o que faria crescer muito o turismo nas fronteiras do Brasil, inundado por uma aura mística entre eles, o negrinho do pastoreio, o saci pererê e os negros escravos expulsos da Argentina, e que tudo isso renderia uma grana “federal”...

A verdade, senhores, é que minha namorada mente muito. Mas também é verdade que estou delirando nesse momento com 39 graus de febre e que a dose de psicotrópicos que tomei ontem foi cavalar.

No fundo, ressinto-me de não ter notícias de Rufião, meu idiota preferido.

Mas nessa ( é nessa, sim ) noite gelada em que escrevo, como tem sido todas as outras dos últimos sessenta dias, e sempre com chuva, como parece nunca vi, preciso dizer uma coisa que vai aqui no peito. Me encontrei várias vezes na semana com um homem. Eu o vi em cruzamentos, em esquinas, permeando as ruas. Nos cruzamos várias vezes, o que me chamou a atenção, como nunca em tão pouco tempo eu vi uma pessoa numa mesma semana. Sempre andando apressado, embora com passadas curtas, este cidadão de uns 1,60m me choca. Extremamente tímido e parecendo ter medo, com um ar de quem precisa confessar alguma coisa, vai de olhos ao chão. Me vendo, e assustado, esboça um sorriso achacado ante meu cumprimento. Seu caminhar é disciplinado, de quem vai a um lugar certo, embora não seja grave. Caminha parecendo não querer aparecer, como se estivesse incomodando as pessoas. Mas o que chamou a minha atenção foi seu olhar. O olhar desse homem, de uns 60 anos, é um enigma, como já vi em retratos do cristo pregado na cruz.

Eis com quanto disso e daquilo foi a minha semana passada.


Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br