Trajeto temporal - I
Sem tempo vejo o tempo
Vai-se e fico
Digo: maldito, e
Faço um retempo
Passaram por mim
Os anjos fizeram fila
Marcaram um fim
Viram, afinal, um arlequim
Nada de tão ruim
Então fico assim
Porque sempre foi assim
Lodo, lama, ameaças,
De mim,
De mim para mim
Nada, nem nunca será o fim
Julgo-me traído, incauto
Por isso é fato
Que vivo na lama
Ora na cama
Na cama da dor do amor
Do que se foi e do de agora
Que já não tem mais hora
Fica assim por hora.
A fênix
Espera-me
Reza-me
Benzo-me
Corro e volto
Não quero isso
Afinal o que é isso...
Forte fênix espera-me
Luto de novo, incauto
Mentiroso o novo fato
Por fim é tudo mentira.
Vou morrer
Matei centelhas de vida
Fiz jazer centenas de sonhos
Estou exausto.
Me dá o pão, senhor
Justo, e que é pouco
Sei, pensa, sou louco
Ainda guardo lembranças
Das velhas andanças
Serão suas nuanças
Serão suas sentenças
Matarei todas as vidas
A passada
A de agora
Vou correr e tentar viver
Mesmo sem pão
Sem pão, sei lá se me querem
Ofícios mortos
Apenas a pena
A poesia
Da alma a maresia
Será, sou filho de Jeremias ?
De Jeremias de Isaías
Da nação da canção
Escrevo a oração
Dá-me pão
No mais, seu perdão
Não quero mais, não
Por hora, não.
Falaremos adiante, então.
Corredores, pilastras
Anotações devassas
Devastadoras desgraças
Vejo tudo
Engulo
Um ângulo
Um maldito êmbolo
Meu oficio, o sono
O amor, enfado
O labor, um fardo
Quero água para dar
Caminhar para alcançar
Dar-lhe-ei, pobre senhor, meu lugar
E mais tudo de meu lugar
Para tudo grassar
Dá-me a paga, à pagar.
A valer
A receber
É um pouco tudo
É justo !
Entao a fênix já sem vida
Será, parece, a partida
Os braços de nova vida
Desconhecida, nova, agora parida
E entao
Fugirei....
Amor, pendor, sonho, encanto, acalanto, perfume, recanto, reconhecimento, calor...
Estou fugindo...
Suor, medo, ânsia, pressa, graça, desgraça, persecução, miragem....
Onde estou ?
Teobaldo Mesquita