quarta-feira, 23 de junho de 2010

Trajeto Temporal I

Trajeto temporal - I



Sem tempo vejo o tempo

Vai-se e fico

Digo: maldito, e

Faço um retempo


Passaram por mim

Os anjos fizeram fila

Marcaram um fim

Viram, afinal, um arlequim

Nada de tão ruim

Então fico assim

Porque sempre foi assim


Lodo, lama, ameaças,

De mim,

De mim para mim

Nada, nem nunca será o fim


Julgo-me traído, incauto

Por isso é fato

Que vivo na lama

Ora na cama

Na cama da dor do amor

Do que se foi e do de agora

Que já não tem mais hora

Fica assim por hora.


A fênix

Espera-me

Reza-me

Benzo-me

Corro e volto

Não quero isso

Afinal o que é isso...


Forte fênix espera-me

Luto de novo, incauto

Mentiroso o novo fato

Por fim é tudo mentira.

Vou morrer

Matei centelhas de vida

Fiz jazer centenas de sonhos

Estou exausto.


Me dá o pão, senhor

Justo, e que é pouco

Sei, pensa, sou louco

Ainda guardo lembranças

Das velhas andanças

Serão suas nuanças

Serão suas sentenças


Matarei todas as vidas

A passada

A de agora

Vou correr e tentar viver

Mesmo sem pão


Sem pão, sei lá se me querem

Ofícios mortos

Apenas a pena

A poesia

Da alma a maresia

Será, sou filho de Jeremias ?


De Jeremias de Isaías

Da nação da canção

Escrevo a oração

Dá-me pão

No mais, seu perdão

Não quero mais, não

Por hora, não.

Falaremos adiante, então.


Corredores, pilastras

Anotações devassas

Devastadoras desgraças

Vejo tudo

Engulo

Um ângulo

Um maldito êmbolo


Meu oficio, o sono

O amor, enfado

O labor, um fardo

Quero água para dar

Caminhar para alcançar

Dar-lhe-ei, pobre senhor, meu lugar

E mais tudo de meu lugar

Para tudo grassar

Dá-me a paga, à pagar.

A valer

A receber

É um pouco tudo

É justo !


Entao a fênix já sem vida

Será, parece, a partida

Os braços de nova vida

Desconhecida, nova, agora parida


E entao


Fugirei....

Amor, pendor, sonho, encanto, acalanto, perfume, recanto, reconhecimento, calor...


Estou fugindo...


Suor, medo, ânsia, pressa, graça, desgraça, persecução, miragem....


Onde estou ?



Teobaldo Mesquita