sábado, 28 de agosto de 2010

Hastes às bandeiras.

Hastes às bandeiras

Eram 17:10 quando dei-me com a rua, que encontrou-me com uma brisa úmida do leste, em meio a um leve mormarço que anunciava chuva. Enquanto levava a mão ao mastro da bandeira, já na calçada, mil pensamentos misturaram-se a uma velocidade indescritível. Levei a mão esquerda para ganhar rapidez, e desatei o mastro das argolas de ferro e a recolhi para dentro da prefeitura tão rapidamente como meus devaneios. Parecia um tesoureiro que lacra um cofre cheio de dinheiro, cheio de ouro. Deitei a bandeira no sofá. Olhei para ela, lembrei de meu padrinho Nestor, e que era o ultimo dos três dias de luto oficial decretado pelo Solda. Bandeira de meio pau. Não me prendi e ganhei o corredor para poder ganhar o pátio e ir-me embora. Viajei até minha casa com a visão daquele homem. Estava ainda impregnado, estimulado e comovido. Lembrei que ainda ao meio-dia em minha siesta de quarto escuro, solucei e lacrimejei. Tenho esse costume de adiar a dor. Tenho essa mania de sofrer a conta gotas. Tenho esse lado humano que me surpreende. Tenho tudo para ser gente...

O episódio das bandeiras não supera a perda de Nestor Martynetz. Meu querido e amado padrinho. Pensei que a bandeira que abraçava seu corpo, seu ataúde, tinha mais privilégios do que eu. Pensei e deduzi a coisa certa. Jamais havia abraçado meu amado padrinho. E naqueles dias, nesses poucos dias passados, o que mais senti foi a vontade de abraçá-lo, como ele pode também ter sentido tal coisa, quando ainda vivo. Nada e nem ninguém a detrimir, mas o abraço se mostrou tão necessário nestes dias, como o prato de comida e o copo de água. O vi apenas. Calmo, sereno, elegante, bem rodeado, e já abraçado certamente. Faltou o meu. Mas o vi. Nunca houvera sentido tal opressão em meu peito. Faltou-me o abraço. Dei-lhe um adeus condoído. Fiquei tranqüilo, porque ele estava tranqüilo. Sempre, eu e ele, fomos altivos em pequeno excesso. Resta para ficar, a saudade e o sentir de um amor tênue, leve, mágico, que me faz bem. Resta a nós, nós mesmos, eu e ele.

O meritíssimo senhor e cidadão honorário de Rio Azul, Nestor Leonides Martynetz era um prudentopolitano descendente de ucranianos. Foi coletor da Receita do Estado. Sua formação escolar aconteceu nos seminários de padres do Verbo Divino e também do rito ucraniano, São Josafat, em Prudentopolis. Ainda como coletor de rendas, atuou em São Joao do Triunfo e Bela Vista do Paraíso. No maio de 1950, casou-se com a senhorita Hladczuk, de também descendência ucraniana. Seu nome, Julia. Amada, e mulher de fibra ( Júlia, significa enérgica ), foi minha madrinha. Saudades.

O empreendimento de Nestor à frente da administração galgou um progresso estrutural de muitíssimo significado. Construiu a fábrica de manilhas, pavimentou diversas ruas, e foi o prefeito das vias rurais, dos alargamentos de estradas, e da abertura de novos caminhos no interior do Municipio. Concluiu ainda a construção da Praça Tiradentes, iniciada por outro querido amigo, Albino Ianoski.

Nestor que casou-se em maio, deixou-nos em maio. E deixou-nos no dia das mães. Quando seu ataúde foi introduzido na câmara de sua esposa, querida Julia, vi seus filhos e filhas entregando o pai para a mãe no dia seguinte ao dia das mães. Significativo isso. Não apenas simbólico.

Quero aqui abraçar toda a familia. Mas ainda preciso falar de meu padrinho Nestor. Homem altivo O que deprecia os orgulhosos, era nele o seu carisma. Seu sorriso era um sol. Suas palavras, mesmo duras quando necessárias, educava, ensinava e aconselhava. Sempre o considerei o eterno conselheiro.

Muito poucos tinham o moral e a moral que este vergava. Vi-o pessoalmente faltando uns dez dias de seu passamento. Em frente a uma farmácia de Rio Azul, e elegantemente apoiado a uma bengala. Viu-me claramente, sorriu-me largamente, e produziu-me satisfação. Eu que não o havia visto há mais de um ano, e carregava o peso dessa obrigação, senti-me aliviado com aquele olhar candido. Como aquilo me fez bem. Seu sorriso me perseguiu na medida em que diminuí a velocidade. Foi uma bençao de pai Abrãao, foi uma despedida muda, uma despedida almejada por grandes, por aqueles que entendem-se pelos olhares. Minha reverencia tocou-lhe. Senti isso. Levantei a mão direita com jeito para meu padrinho Nestor. Agora sei que foi um adeus.

Às hastes, as bandeiras. Nestor foi mandatário em uma época difícil para o país. Nestor foi prefeito do tempo não só de obras, mas de bandeiras, de hinos, de reverencias, de respeito. Coisa rara hoje. Com Nestor em sua despedida, voltam as bandeiras. A do ataúde vai subir e tremular, para provocar o fulgor juvenil por este chão benquisto. Com a Bandeira Nacional e a Bandeira do Paraná – é ordem do prefeito Solda - , voltam as bandeiras. Nestor, trouxe-nos o gosto e o maravilhamento pelas bandeiras. Serão dispostas sob a marquise da prefeitura. Todas. De Rio Azul, do Paraná, e do Brasil. Amem-nas. Estarão lá.

Que simbiose tão digna. Nestor vai-se, e nos deixa a lição das bandeiras.

Esta, é uma pequena homenagem ao ex-prefeito de Rio Azul, Nestor Leonides Martynetz.

Querido padrinho. Faltam-me palavras. Tenha-no Deus, como o temos em nosso coração !

Teobaldo Mesquita

Lula acontece. O fumo é nosso.

Lula acontece. O fumo é nosso !

Quero aqui abordar dessa vez dois assuntos diversos. Começo por uma questão muito explorada pela mídia mais conservadora do país, num momento em que o mundo incandesce em possibilidades político-culturais. Depois de Sarkozy, depois de Obama, depois de a esquerda e dos verdes passearem pela Europa. Com a saída das tropas e armas pesadas do Iraque ( ficaram as tropas de controle ), a coisa parece um tanto serena, não fosse pela eterna caçada a Bin Laden, o que incomoda e muito a população do Afeganistão. Nessa onda neo-positivista, israelenses e palestinos até marcaram data para conversar.

Cheguei onde queria. Santos, novo presidente da Colombia, certamente manterá estreitos laços com os Eua. As Farc, o narcotráfico, etc.. E agora cheguei onde queria chegar mais ainda. Morales, Chavez e Lula/Dilma. Tenho para mim, que a “figuraça” do Luiz Inacio, seus malabarismos, toda sua arte de persuadir, incidir e acontecer, salvam a pele dessa America do Sul esquerdista e com suas manobras pouco visíveis, que é afinal o que mais põe medo. Eu não tenho dúvidas, que se sua candidata Dilma Rousseff eleger-se nova presidente do Brasil, será ele, Lula, uma capa protetora desse “faz-de-conta”, - e aqui lembro o ex-governador Requiao-, dos motes divinos da Carta de Puebla, que para os mais jovens fica assim- “opção pelo mais pobres”. Será nada mais, nada menos, que uma ponte aérea permanente na vida de Luiz, o Inácio. São Paulo-Teerã-Washington-Caracas.

Anotem aí. Ele vai longe.

Nossos números

Nosso PIB, o de Rio Azul, representa algo em torno de 0,1% do PIB Paranaense. Algo em torno de 200 milhoes de reais, talvez um pouco mais. O peso que vem da atividade agropecuária nos faz empatar com Rebouças, ganhar de Mallet, e pasmem, nossos números são a metade dessa produção comparada com o Municipio de Irati, que é no mínimo três vezes maior em produção e riqueza. Porque é mais industrializado, claro, e por isso tem uma taxa de pobreza um pouco menor. A urbanização deles, de Irati, é de quase 80%, sintoma de mais latifúndios ou mesmo de bons índices de educaçao, que leva as famílias para a Urb. E a nossa de pouco mais de 30%, o que pode indicar que temos pobreza no interior, ou esparsa, ou por crescimento de áreas de reflorestamento, ou por zelo de cadastrados em Bolsas, como o Bolsa Familia, ou porque esses números podem burros ? Não sei.... Porque as gentes e sua cultura são quase iguais, senão iguais. A verdade é que tudo isso que falei não era de fato minha intenção, e sim, que não outra, de falar da fumicultura. Da defesa desse sustentáculo de nossa economia, e que faz Rio Azul tão pujante como, ou quanto seus vizinhos.

Todos os meus amigos deixaram de fumar. Menos eu. Problema meu. Impostos para o governo cuidar de meus futuros dias, eu pago. Burrice ? Não. Opçao. Pouco convincente, é verdade, mas eu tenho uma verdade imbatível para defender a fumicultura. As campanhas anti-tabagismo criaram um cerco tão grande ao fumante, que este não pode ignorar os malefícios da droga. Não iria pela linha de que o ópio sempre existiu, e que nunca acabará. Mas a extinção do plantio e o consumo reduzido a níveis insignificantes levará muito tempo, e aí é uma questão econômica, de mercado, com toda a sua frieza. E cultural também. E de fato, nossos agricultores precisarão de décadas, duas ao menos, para substituir o tabaco por outra cultura tão ou mais rentável. Por isso minha imbatível verdade, é que apenas o mercado é quem sinalizará a minoração desse cultivo e sua substituição. Reforço. Ninguém impede por decreto a produção de algo lícito, senão o mercado que o rejeita. Há mercado ? Há produção.

Plante fumo e apague o cigarro !

Teobaldo Mesquita

Rio Azul, 92 anos !

Rio Azul, 92 anos.

Quando numa sexta-feira da paixão pela manhã fomos eu e meu pai em busca de “macela” , concluí como em diversas sextas-feiras da paixão que aqui no Sul tudo é lindo, e que meu pai não deve sentir-se deslocado de sua pampa de planícies a um milhar de quilômetros daqui. Aqui também tem “macela” , o vento ruge em alguns dias de inverno, e o fogão de lenha é socorro nas casas, como o fogo de chão pode ser socorro de nossos agricultores nas madrugadas de verão.

E porque aqui tudo é bom, bom é dizer que apraz à saúde respirar mil metros acima do nível do mar, contar com vales encantadores que já vi no Faxinal dos Elias e na Agua Quente dos Meiras. E encantadoras são as araucárias que ainda vemos, os lajeados com sua água límpida e cristalina, o parque da pedreira, as procissões, os casamentos de “polaco”, as lembranças do cinema e da estação de trem, o novo “footing” nos lusque-fusques de domingo.

Quando os aventureiros ( bandeirantes ? ) engajaram-se na selva do sertão do Jararaca, os indígenas da região do Marumbi precisaram recuar para Palmas e Chopinzinho, mas a lei e a necessidade do facão prevaleceram antes, e ainda depois da construção da estrada de ferro. Estes, aventureiros e índios, avistaram embarcações espanholas no Rio Potinga. Essa história está registrada por Romario Martins. Não sei se antes ou depois do Tratado de Tordesilhas. Mas entre uma coisa e outra, limparam a fartura de madeira e erva-mate desta amada terra, que logo, logo, recebia os imigrantes poloneses, ucranianos, e alguns árabes e judeus disfarçados. E com tudo meio junto, a estrada de ferro Paraná-Santa Catarina.

E depois de contendas, armações de ardil, execuções em praça publica, raiou o 1918 que desmembrava Rio Azul da jurisdição de S Joao do Triunfo.

E cá estamos nós.

Ainda no meio de contendas, armações de ardil e execuções em praça publica.

Madeira, erva-mate, batatinha, feijão, fumo. Chão de cascalho, chão de montanhas, terra de santos e loucos, matreiros pelos cantos, jogatinas pelos fundos, espalhamento de “olho-gordo” , fogão com pinhão e chimarrão ( chimarrão ? ), padres benzendo casas. Quem aqui nasceu, por aqui passou, ou por aqui ficou, de tudo viu.

A única porção mais latina, do país da bota, levou arado no “osso do peito”, e hoje cansados, deixam para seus filhos maiores áreas de terras e porções de metal em cofre. Do Cáucaso, o sofrimento e a dor, característica que quem explica é o pai da literatura russa, Fiodor Dostoievski. Um amor complacente, uma passividade psicológica, uma espera que não chega nunca. As novas gerações assimilaram que era impossível a política do trabalho pela subsistência. Os caboclos, remanescentes alguns dos portugueses, outros vindos de tempo em tempo, mas especialmente a “nata”, ficou vendo a banda passar. Chamados de “martim-pescadores” , dividiram-se entre ricos e pobres de sua própria gente. Os ricos apodrecem como suas imbuias e pinheiros, e os pobres viraram mão de obra, às vezes de pouco valor. Herança do Brasil Colonia e do Brasil Império. É bom ver isso com Laurentino Gomes.

E chegaram, também de tempos em tempos, os “catarinas”e os “gaúchos” . E chegaram outras pessoas, especialmente depois da década de 1980. Alguns especulando e outros desbravando às custas de muita luta, mudando o panorama. As terras valorizaram-se, mais ainda com a intensificação dos reflorestamentos. O padrão de vida melhorou, as fumageiras começaram a qualificar o produtor e o produto, chegaram água e luz no campo, as estradas multiplicaram-se e melhoraram, e hoje, somos uma aldeia só. Sem as mesmas soluções, mas com muitos problemas comuns.

Hoje, com bairros e vilas, a cidade espichou-se, e as áreas de produção aumentaram no campo. O Municipio cresceu a olhos vistos, de 15, 20 anos para cá, e nosso PIB caminha para 200 milhoes, mas com uma repartição per capita de não mais de 8 mil reais......Só não podemos dizer de uma economia sustentável pela insistente ameaça anti-fumiculturista. De todo jeito, é essa a situação. Mas falta alguma coisa.

Estamos silentes e ausentes diante de uma necessária porção de Humanidade entre nós. Isso não é coletivo, este autor não gosta e não acredita nesta palavra. Falo do voluntariado individual e de ações organizadas por indivíduos.....

Sempre estivemos ausentes e silentes. E carentes. E doentes. E dementes.

Alegria, fé e pulsividade de Vida, só na igreja. Por meia-hora. No maximo uma hora....E só na igreja....

Vivo dizendo que em muitas de nossas casas há tantos profetas e poetas abandonados... Surdos-mudos. Aleijados. Esquecidos. E o pior, mal queridos. Não os consultam, parecem deles querer a maldição......

Se não nos amarmos e não amarmos o mundo, nao seremos mais que uma cidade em desenvolvimento. Talvez com pedófilos mascarados, crianças grávidas, boyzinhos encocainados, aquela gente de camisa bonita e dentes podres. E agora o crack, senhores. O pior ainda virá.....Mesmo num tempo secular, há que se lembrar do tri-pé, igreja, escola e família. Se você pensa ter evoluído, então substitua. Espiritualidade, escola e família. Mas sua espiritualidade precisa valor um amor. Sem mensuração. Amar apenas, já é conseqüente. Entao, freqüente a escola de seus filhos e cobre ações. Em casa, desligue a televisão, monitore a internet, que é mui útil, e empilhe livros. Um livro alimenta uma alma. Varios livros, podem salvar a humanidade. E não te esqueças de teus irmãos. Dói neles certa situação de discriminação. Vá aos bairros de Rio Azul. Ajude-os a coletar lixo de córregos. Leve camisinhas, leve fraldas, leve escovas de dente, leve palavras repetidouras, e que se repetirão....Inopinadamente, faça isso... Fale de amor e de projetos. Plante esperanças, enquanto valorosos homens trabalham dia noite por este Rio Azul. Diga que queremos a juventude em rodas, em passeatas, em bibliotecas. Leve tintas e pincéis. Ensine-os. Viva em meio a eles.

Como ainda estamos no meio de contendas, armações de ardil, e execuções em praça publica, prática farisaica, e em tempo de comemorar 92 anos de um Rio Azul independente, fica a mensagem de perorar pelo ouro desta terra. A nossa gente !

Mas não é tempo de espoucares. É sim, tempo de reflexões.

Notas

A “macela” , que faz bem para cólicas estomacais, deve ser colhida sempre no amanhecer da sexta-feira santa.

Contenda- briga

Armaçao de ardil- planejar o mal

Execuçao em praça publica- figura de retórica que lembra a seita dos fariseus, e sua “língua comprida” .

Teobaldo Mesquita

Pastas de dente e livros.

Pastas de dentes e livros

Convidam-me para escrever no jornal RioAzulense. Fico orgulhoso e ansiado ao ponto de misturam-se os assuntos e as possibilidades de desenvolver uma crônica. Seja ela clássica ou estilizada, tira isso de mim o centro, mas espero que não, o bom senso. Se bem que as prefira, as coisas de pouco senso, que aludem ao mistério da vida e essa dinâmica do enfrentamento dos dias.

Nós demos um salto, passando de um período pretérito, com suas questiúnculas – coisa bem pontual, bem nossa - , para a era, a nossa, só nossa e incomparável era midiática. Lembro que há cinco anos atrás eu inaugurei um blogue, mas nada se compara ao retumbo de uma emissora de rádio, e agora de um jornal. Espraiam-se idéias, ou pequenos ideais... O que é que há afinal...?

Os românticos, que também ainda acreditam no amor de um homem e uma mulher, e sem mais variações, dormem o sono dos justos – e é assim que pensam... - , lembrando do velho telégrafo, e logo depois do megafone, que só era mega porque zunia pelo barulho das cordas vocais dos falantes de ambos os lados.

Agora que temos uma rádio, bom grado me é saber que ao som dela, os `` baixinhos`` de 1 a 1,70 m, só poderão ver a imagem de Xuxa Meneghuel e de Ana Maria Braga. E olha...., nem sei se essa Xuxa ainda existe, e se ainda tem idade para `` fazer `` televisão. Um olho na tevê, outro na panela, e ouvidos no rádio...e isso, enquanto o olhar da tevê não dividir espaço com o tablóide estirado na tábua de passar roupa.

É hora de leitura. O homem também faz-se pelas letras e pelo eruditismo. Que rufem os tambores para a chegada de nosso tablóide, bem com a nossa cara, com o nosso nome e tudo. Jornal RioAzulense.

A maioria das pessoas em Rio Azul deve conhecer alguém que anunciava, ou até mesmo prenunciava a morte de alguém. Elas existem e sempre foram muito efetivas, e até mais que o sino da igreja que dobra com o choro do pesar da morte alheia. Pois se teremos de agora em diante o obituário aqui, na rádio a informação é instantânea, competição direta com as mães da morte. São as mudanças, são as transformações, que nunca chegam tarde !? E nem estou falando dos celulares e dos computadores, da internet, das comunidades virtuais....

Enredo pelo assunto, que no início me pareceu chato a mim mesmo, mas questiono também a mim, e a ti, caro leitor, se suportaremos a invasão midiática, se até agora muitos de nós enchemos os bolsos do filho da tribo de Davi, Silvio Santos ? E do seu topa-tudo, e da linguagem subliminar, que nem mais é, que nem mais existe, da Tv Globo ? Salve a globalização da informação que nos livrou daquele insuspeito plim-plim.

Não estou mudando de assunto, mas de 2001 a 2009, nossa frota de veículos aumentou em 100%. Pode ? Claro, afinal aumentou nosso poder de compra e nossa possibilidade de endividamento. Calças de blue claro, de blue escuro, pulseiras, perfumes (?), automóveis, motocicletas, big mac”s caipiras, carteiras de couro da China, sapatênis bregas, óculos ridículos, muito chicle na boca e na mesma proporção de cáries, não faltou dinheiro para um colutório ou uma boa pasta dentes, faltou ? Se faltou, tá mal....

Olha....( interjeição )...Tudo está ficando em seu lugar. Parece, ao menos. Tudo está aí, tão disponível, que é até difícil de acreditar. Mas, se parecer difícil adquirir um colutório, uma pasta de dentes, e um livro, desistam da sobriedade do Clayton Burgath e da pachorra positivista, alegre, fantasiosa e divertida do Sassá Oliveira. Quanto mais de ler o que escrevo aqui.

Durmam sempre bem e bastante. E de dentes escovados, após ler ao menos 20 ou 30 páginas de um bom livro. Afirmo que, mesmo com as contrariedades do vosso dia-a-dia, esse tão pouco, somado ao bom que se adquire passivamente, poderemos com isso construir uma nação ! Isso mesmo. Com pastas de dentes e livros conquistaremos o mundo.

Por fim, lembro de uma frase-jargão criada pela Abert na década de 80: Brasileiro não vive sem rádio !

E por fim mesmo, digo mais: leia e divulgue o Jornal Rioazulense. Desfralde-o por sobre as mesas de bares, sacos de dormir e pelos estreitos selins das motocicletas.

Teobaldo Mesquita

teobaldomesquita@uol.com.br

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Trajeto Temporal VI

Abro um canto de louvor

Conto o fim em dor

Adeus, ( minha ) condor

Adeus, amor.....

Adeus


Vivendo agora em seu altiplano

Corri eu de novo a ver

Era novo plano

Mas vi um coração de pano


Voa, (minha) condor, voa


Não te culpo

Eu me culpo

Não mais te esculpo

Vivo a culpa


Do indelével

Da cruz dada a alguém

Do choro íntimo

Em mim ínfimo

Leve, fugaz, leviano

Mas fui soberano


Coroado e amado

Maltratado

Doente e mal fadado

Distribuindo luzes

Oferecendo cruzes

Matando

Em ofensas

Esmaguei em prensas

Amores e cores

Pactuei com o diabo

Dei dor

Um horror

Não há como a mim, pecador


Sonhei

Voltei em devaneios

Tudo sem freios

Submeti-te ao diabo

Tua resposta humana

Profana

Devassa

Desencantadora

Para mim, uma carraspana

Para ti, tudo de tua doença e tua gana


De nós, muita valentia

De nós, muita covardia


Que escuridão, Deus

Que me farão...


Como a mim olharão

Se o que tenho não é meu

Se onde estou

Para morrer...

Sim,

A mim não olharão

Morte sem fim

Quero da morte seu jardim

Assim

Ruim ou festim

A morte sem fim


Deixei os anjos

Os anjos me deixaram

Por tudo, todos acabaram

Antes, porém me enredaram

Destino este me deram

Vêem, não ficam

Vão sem ir

É a maldição

Do coração a contrafação

De propósito

Para deixar-me ao chão

Nada pior que essa maldição


De um ciclo

Formado um círculo

De tempo, razão e loucura

Provei a doçura

E bem logo a amargura

Porque sempre

Um a um

Competindo com armaduras

De mim exigiram fartura

Quando farto da ventura

Implorei descanso numa procura

De ar

De amar o ar

De sofrer e amar

De sofrer e resignar

Enfim, tudo isso validar


E sentenciei-me

Feito de um Fausto, um Fomá Fomitch

Buscando agora meu Makar

Trajetos longos

Ditongos

Para o espírito


Fiquei só num nó

Que dó

Pobre homem

Pobre a fome

Julgado

Foi o passado

Socratiano

Meu

De amar, amar e amar

Meu

De conceder espaços

Meu

De ver o homem deus

Meu

De pequenas guerras, glórias

Meu

De inglórias


E meu agora

Para mim

Para mim somente

Dolente

Caminhante

Nas mãos sementes

Mãos dormentes....


Levanto-me

Eis-me algo como uma réstia a surgir....



Teobaldo Mesquita

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Trajeto Temporal V

Trajeto Temporal V



Cansado e enfadado

Acordei de lado

De olhar embaraçado

Nesse chão gelado

De folhas, espinhos e folhas

Na cova da mão ao peito uma embolha

Na alma, de vez, uma bolha


Numa escuridão cinzenta

Nesse purgatório lento

Sopra um vento

Um vento sem intento

E eu no alento

Sedento do alento

De cruzes e cruzes


É a vida

Para mim, minha vida

De cisão

De também grave decisão

Se não grave, pequena morridão

Quando junto, junto, chega uma canção


Belíssima canção

Coração

Aurora sonora

Quieta e profunda.

Nasceu-me

O sol

A vida

O amor

Leve rubor

Grave vigor

Pensei, libertador


Houve festa no cosmo

Houve uma declamação

E houve um juramento

Cheio de fundamento

Que no final virou lamento


Disse-me, então:

Lamento te amar

Exigem-me novo ar

Querem-me ao alto voar

Nunca mais voltar

Com eles vou ficar

Para eles irei voltar

Sinto o que querem

Vou procurar...

Não poderei amar

Adeus, amar

Adeus, amor


E o que sobrou....

Sofreguidão num portão

Indecisão

De morte uma solidão

Sofreguidão de ilusão

Lapidação da alma

Pedras ao coração

Inesquecível beijo

Condoído adeus

Promessas para sempre

Como se tudo estivesse à frente


Mormente

A pequeneza humana

A indignação

A forte decisão

Inenarrável

Inarredável

Cheia de amor

De um lindo pendor

Orgulho dum condor...


Mormente isso,


(...)

Tudo morreu...

Nada sepultado

Fantasmas alados

Almas irmãs

Sempre um novo adeus

E nada sepultado

Onde tudo morreu


Essa brusquidão de agora nada mal me faz

Vivo estou e apenas parte d´alma jaz


Preciso ver o que o outro lado me traz...

Agora

Assaz



Teobaldo Mesquita