sexta-feira, 6 de junho de 2008

Eu sou exclusivo.

Eu sou exclusivo.




Sempre me achei exclusivo. Exclusivo para mim mesmo, exclusivo para o que recebo, exclusivo para o que produzo. Minhas namoradas e amantes eram exclusivas, meu talão de cheques era exclusivo e eu tinha um amor exclusivo, também. Tudo em mim é exclusivo, incluso implicitamente, exclusive a galhofa e a vulgaridade. Em parte, lógico.

Por isso sou eu mesmo, por isso não concordo com todo mundo, por isso tenho minhas idéias e por isso me viro nas horas difíceis. Se Deus existe, ele me deu exclusividade em quase tudo, inclusive quando me faz sui generis em situações delicadas.


Porque sou exclusivo muita gente não me gosta, muita gente se afasta de mim, muitas pessoas me desviam, como o diabo desvia da cruz. Eu rio sem parar, dou de ombros e me acho nessas horas mais exclusivo ainda. Se eu for parar no inferno depois de minha morte terei uma exclusividade por lá. Não tenho dúvidas disso. No céu, então, muita exclusividade e muita mordomia.

O problema é que a exclusividade nas coisas da vida causa muita inveja. Inveja e mau-olhado. Mesmo judeu, não acredito em mau-olhado.


Há 44 anos sou exclusivo de meus pais, sou o queridinho da mulher, sou o amado dos filhos e tem gente que me adora. Criei uma marca – talento também se forja –, e em muitos tempos tive a minha patota. Até hoje ainda tenho. Mas corro sério risco de perder uma boa parte deles. Não perderei, porém, a exclusividade.


Quando chego a esse ponto é porque o veneno já me desce pelas beiradas da boca. Ando babando veneno. Ando seco e ardiloso, ando querendo muito ser mais exclusivo ainda. Minha tática nunca falhou, por isso tenho certo que serei o preferido de alguém.


Na vida estou sabendo esperar por tudo. Não sou um insolente que deixa ao léu o dia de amanha. Programo todas as minhas maldades e caridades, cronológica e cirurgicamente. Não que eu seja detestável, não. Aqui, lógico, estou falando comigo mesmo....Sempre me achei no dever e manifesto nas penas minha sina de salvar o mundo. Duvido que aja alguém como eu. Daí a exclusividade. Até nisso.


Algumas retratações que achava certo exigir já não se fazem necessárias, e assim sorvo dia-a-dia, com a alma principalmente, o enredo dantesco que se desenrola à minha frente. Rio mais ainda. Disse dantesco porque foi o único termo que encontrei. Aqui não vai nada de pejorativo.

Dante é Dante. Eu sou eu, e os outros são os outros.

Tudo isso é uma explosão de vaidade pessoal, meu lado exclusivista.


O ineditismo que pode transparecer daquilo que escrevo vem de muito tempo comigo. Só eu sei. Pouco(a)s partilharam. Minimamente alguém poderia suspeitar. Para a ralé da intelectualidade eu só quero afirmar que sou eu mesmo, aquele pacato cidadão ensimesmado e orgulhoso.


Agora na política partidária, então, puxa..., quanta munição trocada. Vem chumbo e vai chumbo. O que mais gosto, porém, é fazer análises. O Solda que conheço há quase 30 anos é mais inteligente do que imaginava, ninguém bate ele no momento. Alguns ultrapassados, ultrapassados mesmo, não sei de onde surgem, se após beber alguma poção inebriante ou após acordar de um sonho pueril se arvoram em ganhar créditos vencidos há muito tempo. Como tem gente corajosa na política.


Sem esquecer da minha exclusividade em tudo, ganhei exclusividade em muitos aspectos. Talvez um dia seja o Rasputin, o líder espiritual, o mago do pequeno palácio ?

Ainda procuro alguma ocupação exótica, ou digamos, surreal, de onde eu me possa ver a mim mesmo. Minha exclusividade, meu ``eu`` cheio de si mesmo quer ser um Fomá Fomitsh, um Golbery do Couto e Silva. Ou um misto dos dois.

Não sei como começou a vida pública de Golbery, mas de Fomá já tenho em mim e para mim algo bem verossímil. Um servo bôbo. Depois vem o melhor. Sempre depois vem o bom da coisa.


Por enquanto coleciono antipatias, o que não deixa de ser uma exclusividade. Eu adoro isso. Quer se alistar ?


E não arrasto ninguém para minhas idéias. Isso pode me tirar o pleito de ser sempre exclusivo. Concorde comigo, no máximo, e paramos aqui. Faça o contraponto e a guerra estará formada. Nas penas, até hoje nunca encontrei opositor. Ao menos por aqui. Mas eles existem. Pelos cantos.


Eu e mais eu reinamos absolutos.

Viva a exclusividade.


Obrigado.






Teobaldo Mesquita

Um comentário:

Dhenova disse...

"Por enquanto coleciono antipatias, o que não deixa de ser uma exclusividade. Eu adoro isso. Quer se alistar?"

Que espetáculo, meu amigo... fluxo de consciência ou não (rsrs) ficou uma maravilha!!! beijokas