terça-feira, 14 de julho de 2009

Os anjos em Minha Vida.

























Os Anjos em minha vida.



Uns anjos vieram semear vida em minha vida, trazer questões,
instigar-me às loucuras e às aspirações, pôr-me em querelas.

Um muito Bom Espirito, aliviado, e de uma Alma candente,inspirou-me às
anotações, para também vivê-las nesse transurso :

Assim,

O primeiro Anjo vinha do Leste, de onde nasce o Sol.
Seu nome era Amor e sua marca, a Verdade.
Personificada por uma Mulher de Beleza incomensurável e exuberante,
trazia na mão direita a inscrição: tu me amarás sempre e somente à mim .
Na outra mão uma outra inscrição: gosto da justiça e da lealdade em tudo.

E o Anjo chegou no alvorecer de minhas idades, plantou grandiosa paixão e assim, nasceu um coração.
E do coração nasceu o mais resplandecente Amor, do qual nunca se falará porque é terrível, grandioso, por isso inacessível aos comuns.

O Anjo chorou ao plantar suas palavras de sonhos, falou de pluralidades e que estava por ser entendida, compreendida...
Depois chorei eu, alheado, morrendo em mim...

E despedimo-nos em profundo sentimento.
E o Anjo ainda revelou-me na partida :
que teríamos tido os descendentes mais lindos da Terra.

O segundo anjo vinha do Sudoeste.
Seu nome era Sinceridade e sua marca, Busca da Felicidade.
Falei-lhe do 1º anjo, despertei ressentimentos.
Tinha a silhueta do primeiro mas não o era.
Tinha a ânsia do enlace, fugi.
Era grandiosa em suas intenções, valer-me-ia de muito.
Pedi-lhe reconsideração. Não o fiz no tempo justo, foi-se.
Pouco acrescentou à minha existência.

O terceiro anjo vinha do Oeste.
Seu nome, Ingenuidade, sua marca, Simplicidade.
Falei-lhe do 1º Anjo. Semeei inveja.
Vale-me nos dias atuais uma dôr que transpassa o coração e a alma, dôr de valiosa piedade, que se põe em oração.
De pouco valor sentimental não deixou marcas nem lembranças, senão de ressentimentos e faltas.

O quarto anjo vinha do Norte.
Seu nome, Mulher Moderna, sua marca, Serenidade.
Falei-lhe do 1º Anjo, ouvi desdém, depois vi indiferença.
Foi uma paixão natural, crescente porém.
Amiga das horas vagas, compreensível, simples e desapegada das mundices.
Tornamo-nos cúmplices nos erros, patéticos e desafiadores da boa sorte.




O quinto anjo vinha de vários quadrantes.
Seu nome, Prática de Vida, sua marca, Indiferença aos sensíveis e pobres de espírito.
Falei-lhe do 1º Anjo. Plantei ódio.
Nascida na simplicidade tinha objetivos do progresso material, tirados se preciso da excrescência, do lado pérfido, das características inábeis, sutis, pegajosas e de pouquíssimo valor que pode possuir um humano.
Pouco há para falar desse anjo.
Plantou confusão e fincou tentáculos para uma simbiose neurótica.


O Sexto anjo, o último, veio do Noroeste.
Seu nome, Imprudência, sua marca, Insensatez.
Não deu as mãos, não as mostra, porque nelas nada tem.
Discípula dos maus Espiritos, teve a pretensão de representar o 1º Anjo.
Mostrou logo seu cheiro de latrina, seu hálito de enxofre e sua prepotência deselengante, marca própria dos ignorantes.
Lançou cheiros ao ar e sementes num terreno fértil chamado mentira.
Colherá desgraça, e sua vida será de tropeços e nunca terá a validade de uma existência sublime.
Nascida também na simplicidade, vale-se do pouco que para muitos seria fortuna. Jamais se deixará conhecer pelos muitos, buscará aparências, caminho que leva ao vale da loucura, dos desvarios, da morte eterna.
Trouxe-me a amaldiçoada marca do numero 6, da Besta.
Não à toa é o Sexto anjo.


Esse muito Bom Espirito, aliviado e de uma Alma candente disse-me que, entre o
Alfa e o Ômega, tempo sem tempo, chega-me o sétimo anjo. Este, definitivo.




Autoria: Teobaldo Mesquita












sábado, 11 de julho de 2009

Ouses mais de tua juventude, Rio Azul !

Quem te deu maturidade, pátria minha....Se tua juventude é ainda pueril, se ainda te falta o varonil, se engatinhas não atrás de mimos e justezas, mas que és pequena, por isso bela aos olhos duns, desgraçada e abandonada por outros, uma interrogação clara aos videntes, um labirinto vago para os profetas. Tua maturidade juvenil desperta paixões, emoções confusas, algo simples e deveras complexo por si só. Que coisa.

Teu pai te deu belas terras, planaltos imponentes, águas correntes, mas que perfil insolvente...De onde tiras tua identidade não sei, porque aqui não te encontro, mas daqui não saio, porque as almas em profusão dão-me de beber, mesmo que água amarga, água com sal... Não desisto de ti, de minha paixão e amor, de meu encanto, que vejo pela janela escurecida, que ouço no silencio das madrugadas, quando estou dentro de mim e livre de ti.

O que vistes e que vês em tuas terras é o fruto da indecisão, da confusão, da dúvida, da falta de amor próprio, de uma decadência silenciosa, um cancro maldito que de ti tomou conta. Busco pelos culpados que a historia registrou, de quem daqui muito tirou, e para susto e medo de velhas polacas, até soldados ladrões de galinha por aqui passaram zombando de tua postura inanimada, de tua falta de reação, de tua resignação.

Tua formosura juvenil ainda desperta sentimentos vadios, malandros, persecutórios e aproveitadores. Teus filhos, muitos, malditos são. Teus poetas e profetas escondem-se, teus artistas morrem de inanição, e o que sobra é muita exploração. Viraste um pai ingrato, viraste as costas aos filhos,....tantos por ti choraram, tantos te amaldiçoaram, muitos te abandonaram.
Não há muito que comemorar, terra farisaica. Teu pobre chão alimenta uma subsistência, que a teus filhos não sustenta, e só por deus não despenca...Só por deus !
Corro de ti quando de ti mais preciso. Porque não me dás as mãos, senão em querer de minhas mãos poder tirar. Te cuspo porque te amo, porque amor é persistir, lutar e sonhar.
Já te vi mais portentosa, mais carinhosa, mais dada. Mas como não me deste nada, e o que eu queria era tuas ruas, teu amor incondicional, ficar de alma lavada, chorei sozinho, porque nem irmãos eu tinha. Te busquei e te busco em cada esquina, olho de soslaio e desconfiado, porque não confio em ti. Te amo, no entanto. Aqui quero jazer e apodrecer. Nada tenho nas mãos para te oferecer, senão meu olhar caridoso e de pena, porque piedade é amor !!!

Não vou falar de teus pinheirais e nem de teus ervais. Se quase tudo acabou...Nem de teu cinema pomposo, quanto mais de teus trens azulados rumo ao Uruguai. Ai de ti, orgulhosa. Ai.

Ó jovem varão, qual era tua missão ?

Hoje, é vagar pelos teus paralelepípedos gelados, sonhar com os antigos, cantar um réquiem doloroso. A ti, meu padrasto malvado, bêbedo e acabado, meu respeito. Tao pequeno, pai....nao cresceste..., poucas alegrias nos deste, tenho pena de todos nós...

Deste teu filho ditoso: deixe de bobagens e vícios. Abrace-nos, ainda em tempo. Perdoamos-te tudo. Vamos buscar nossos irmãos para pedir-lhes perdão. Só assim poderemos beijar este chão...Porque é hora de valer tua juventude, de novo. Ouses de tua juventude, varão Rio Azul.


Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br

O arlequim mentiroso.

O aniversário do arlequim mentiroso

Andei às voltas nos dias que antecederam meu último último aniversário. É que uso um site de relacionamentos e resolvi aderir a uma modalidade de anunciar eventos e convidar amigos. Como além de cético em muitas coisas me acho muito azarado, imaginei que aquela coisa não fosse funcionar comigo. E funcionou. E eu comecei a ficar preocupado.

E foi assim que as coisas se deram em mim, foi assim que imaginei como tudo deveria ser de verdade. Veja :
Costumo fingir que comemoro meu aniversário com os parentes. É assim todo ano. E seduzo todos eles. Eu os pego pelo mais baixo nível de sentimentalismo. De que estou ficando velho, que tanta coisa há por fazer, que essa vida é ingrata, que as coisas não se resolvem, etc, etc.
Além dessa minha tática funcionar, porque todos me enchem de carinho e presentes interessantes, trato-os como trata Fomá, de Dostoievski, aos seus. Crio armadilhas para chamar a atenção e olho com severidade para alguns, de forma que nada me escape e que eu tenha naquele dia uma noite tranqüila, de um deleite de guerreiro vencedor. E é assim que acontece. Rio sozinho no fim. Que maldade.

Agora me vejo cheio de pudor e preocupações. Preciso personificar alguém e criar fatos novos para suportar meu aniversário. Detesto essa cronologia progressiva, que muitos vêm como o caminho sem volta para a morte, quando eu, tenho tanto a fazer. Paradoxo é comemorar o caminho para a morte. Sou pelo fim dos aniversários.
Como fico cada dia mais moço e orgulhoso disso, invisto mais e mais na penteadeira de minha mulher atrás de cremes. Da horta de minha mãe, a babosa. Logo serei um metrossexual.
Vê lá. Eu falei metrossexual.

Além desses atributos eu pratico meditação. Mas nenhuma das ensinadas pela tal Ana Maria Braga ( é isso, né ? ). É uma técnica milenar egípcia, nada retirado de almanaques. Ah...Adotei o hedonismo também. Para quem acha que o hedonismo é coisa de gente rica, enganam-se. Sou pobre que dá dó. Sou um hedonista-vagabundo. Só porque contei bilhões de dólares é que fiquei com nojo de dinheiro. Não acreditam ? Fiquem com seu ceticismo. Contei, sim, bilhões de dólares.

Não pensem que todo hedonista precisa de dinheiro, que precisa ser milionário. Até porque esses não são hedonistas na integralidade pelo desassossego de ganhar e guardar dinheiro. Eu não. Para mim, até sexo é prazer. Estão me achando louco ? Não....Vocês não entenderam. Pratico o sexo ``em sendo`` um hedonista. Tiro prazer de tudo. Inclusive de olhar ``coisas`` pela minha janela. Principalmente de rir de certas pessoas.
Mas....o aniversário! É disso que preciso me ocupar agora. Sei que sou um cara estranho e que tem medo de pessoas. Mais ainda se imaginar que no meio de pessoas estejam meus credores. Ou pior, inimigos disfarçados. Ou ainda uma amazona balzaquiana de colar havaiano querendo começar tudo de novo.
Decidi que quero todos aqui, ao meu lado. Sirvo um pão com quibe e compro algumas latas de cerveja e fingimos que está tudo bem. Suspeito até, lá no fundo, que alguém declamará poesias para mim...Suspeito também que todos, ao invés de me darem presentes, farão uma doação em dinheiro.
Nada de balõezinhos no teto.
Uma cítara tocando... Jazz... Música de piano...
Ainda não sei...
Tratá-los-ei como diplomatas de outros países.
Ou melhor. Calo-me para ouvir o que todos dizem.
De repente até saio. Antes, porém, sirvo bebidas para ninguém perceber minha retirada.
Ficam com as cervejas e o quibe, e eu vou atrás de mim.
Meia-hora depois, um pouco mais, talvez, eu chego de volta. Já será tempo de notarem minha falta.
Em eu chegando, todos se levantam.
De repente reconheço algumas pessoas e desconheço outras.
Vem-me alguém de muita idade, um velho homem, e me diz:

-Abriram seus presentes...
-O que está acontecendo, pergunto.
-Deram-te tijolos embrulhados.
-Por quê ?
-Todos entregaram dinheiro à tua menina.
-Por que, uma vez mais pergunto.
-Não sei. Ninguém demonstrou piedade por ti. Estão assustados, no
entanto.
Como num pesadelo, observo a todos. Mulheres, uns poucos homens e algumas crianças. Um senhor meditabundo, altivo, porém, olha rindo para o chão. Medita o riso.

As crianças que não se assustam mais com o pateta aniversariante voltam às rodas e correrias. As mulheres não ousam me encarar. Enquanto umas dispersam o olhar pela casa, outras dissimulam conversas ordeiras e críticas.
Levanto-me calmamente e dirijo-me à porta. Olho para a rua inundada por um céu escuro de nuvens. Um réstia de sol no horizonte ainda há. Uma réstia muito pequena e inútil.

Tentando recobrar-me, dou-me com uma criança, uma menina esguia e com um rosto de luz.

-Vai sair de novo ?
-Vou ao portão.
-Ainda espera alguém ?
-Não.
-Por que vai ao portão, pergunta-me a menina.
-Não sei...É preciso que o portão fique aberto...


Nunca acreditem em mim. Sou um arlequim de mentira. Um arlequim que mente muito.
Abracem-me. Preciso disso.


Teobaldo Mesquita







Eu nao sou um barnabé.



Eu não sou um barnabé.


É um risco ser funcionário público. É um risco ser chamado de barnabé. Etimologicamente falando, ou melhor, correndo atrás do significado desse termo um tanto pejorativo, chegaremos à sua origem hebraica e que nos dá a tradução de `` o filho da consolação ``. Eis, então, o que tão bem se encaixa. Eis o que os desolados tanto procuram. Não todos. Boa parte, porém.

Faço parte da malha dos desolados que infringiram a si mesmos e às regras da lógica na busca visionária do empreendedorismo bem sucedido. Isso, na verdade, não existe. Que sirva de lição para qualquer um. As chances são bem menores que ganhar na mega-sena.

Depois de viver mais de uma década entre um curso de faculdade e o esmero e a dedicação que me exigiam o patrão, optei pela segunda. Veio logo depois, o limbo, aquela espécie de mini-paraíso. O limbo das estradas, dos hotéis, das esquinas, coisas que só os caixeiros-viajantes sabem o que significa. Adotei o hedonismo, comecei coleções de vinhos, conheci Makar e Varienka, de Dostoievski, e de repente....muito de repente, lembrei-me de mim mesmo. Lembrei-me da grande mentira de ser grande e um pouco auto-suficiente. Fui para o ``listismo``.

A corporação para a qual trabalhei, como se dono dela fosse, já não existe mais, porque tudo também era uma grande mentira. As verdades daquilo estão nas gavetas e nos patíbulos. Patíbulo, aqui, para mim, também é queima de arquivo (sic...)

Alistado no exercito do Solda, o que é um desafio para poucos, fui reconhecendo algumas coisas das quais já sabia. Que o general é durão, e que não só administra como gerencia e comanda. As coisas foram caminhando por si. Bem ao meu gosto. Nomeado tenente-financeiro, preterido do galpão de munições artísticas e culturais, vi-me de novo ao lado de outra grande mentira, que é o dinheiro. Este, vem e vai. É sempre assim. É um roteiro determinado. Mas na Brigada do Solda, que chegará ao generalato de Divisão, difere-se o vem e vai do vil metal se comparado a coronéis molóides e que já vestiram o pijama. Logo, logo, chega um novo tanque com grande potencial de tiros, uma nova escola para soldadinhos, vários ônibus de transporte de tropas e um sem número de conquistas. Impossível listá-las.

Ah, sim... O barnabé.... O barnabé caminha com passos de pato gordo. Há não muito tempo atrás, costumavam fumar para quebrar a monotonia do dia-a-dia, discutir futebol de todas as modalidades, inclusive a de botões, e seu happy hour...bem, seu happy hour..., deixa prá lá...
Na era Pré-Collor de Mello, como era o caso de alguns bancários residentes de pequenas cidades, só ficavam abaixo do Prefeito e do Juiz. A estirpe tem características genéricas de acordo com as regiões, mas os típicos e que eram alvo de gozação da imprensa, estavam em São Paulo e eram nordestinos ou filhos de nordestinos e apadrinhados dos Zé´s da vida.

Os barnabés modernos usam blazer´s leves, ou mesmo ternos de linho adquiridos em lojas de departamento de judeus milionários. Geralmente copiam hábitos de aspones de marechais. Profissionalizaram-se na repartição de tarefas e culpam a burocracia que ficou complexa.
Ô Leitão..., levanta Leitão !
Mas há uma geração renovada, da qual muito se espera, mas convém não sonhar. Usam lap-tops, tem formação acadêmica, boas relações e detestam carimbos. São proeminentes e exercem uma liderança discreta, da qual parecem não fazer questão. Da mesma geração, há os espertos, que logo pensam no estreitamento de laços com os primeiros. Ao passo que detestam carimbos, envencilham-se com pastas e armários, culpa que não é deles.
A velha guarda é romântica. Não poderia ser diferente. Os assuntos de corredor, local mais fácil de encontrá-los, é além do futebol, as aposentadorias, os tratamentos médicos, bulas de remédios, e volta e meia com o barulho de botas de algum sub-tenente, expressam dureza na fisionomia, nos olhos, mas são heróis na experiência, porque conservam numa situação dessas uma frieza de cirurgião.
Já eu, quero medalhas. Sou da geração Y. Preciso de medalhas no peito. Se subirei a capitão, não sei. Mas mereço medalhas. Quero bem a todos e à corporação. Por um só motivo. Me preocupo com tudo. Como dantes, como foi há 25 anos atrás. Acredito no lema, traço planos de guerra, faço vistas à tropa de longe, sonho com acontecimentos, acredito em nossa força, empilho centenas de cartas e palestras. Os próceres do comandante, inteligentes por isso, já viram tudo de mim.
E-u n-ã-o s-o-u u-m b-a-r-n-a-b-é.


Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br



O choro




O choro


Alguém viu Mandela chorar. Na cadeia ou fora dela, o que dava no mesmo. Alguém viu a desonrada Mukhtar Mai chorar. Aqueles que riram e tripudiaram dela.
Eu não gosto de ver pessoas chorarem. Porque só se enxerga a vida com os olhos e alma chorosos.

Quando meu filho tinha apenas 4 anos, eu lhe falava frente à frente do mundo, da vida, das diferenças sociais, do nosso lugar à sombra que chegaria um dia, e dos mendigos que dormiam nas ruas das grandes cidades. Incidentalmente, não muito tempo depois, levei-o pela mão a passear pelas ruas do centro de Curitiba numa manhã gelada de um mês de junho. Silencioso, ele me deu com o cotovelo direito, apontando com o dedo para um homem coberto de jornais. Choramos os dois. Foi o maior silêncio da minha vida. Eu e ele havíamos entendido boa parte das questões humanas, e foi assim um dos acontecimentos mais importantes para mim. Fôra o choro mais condoído que eu já havia chorado. Caminhamos, depois disso, vários passos sem dizer uma só palavra.Eu e ele olhávamos para o chão, abatidos e pensativos, como se o mundo sofresse um blecaute naqueles instantes. Ali eu havia cumprido boa parte de minha função de pai. Ali eu via ao meu lado que também caminhava um homem, e que sua sensibilidade era fruto de nossa franqueza e de nossas longas conversas.

De tanto insistir que a vida é uma grande mentira, concluo que o silêncio é o choro mais ruidoso de nossas almas. Não há choro comparável com o dos silenciosos, cabisbaixos ou olhando ao céu e ao léu. Esse encontro detestável com nós mesmos, paradoxalmente é o paraíso em que vivemos um dia, ou que num dia pensamos existir e nele viver. E ele, esse paraíso, nunca está conosco.

A brutalidade do homem é uma coisa nojenta. Essa nossa brutalidade, nossa...maximamente nossa, coloca-nos ao chão. Não há o que fazer dela, se deus nada dela faz nos desesperos, verdadeiros desesperos que nossos olhos não veem e nossos ouvidos não ouvem.

Se queres fazer parte do mundo dos loucos, reflita um pouco sobre isso. Se trouxeres uma idéia teológica, resolva primeiro a questão de um simples homem que seja, sentado numa pedra, numa esquina, com o bolso vazio, a alma amargurada, a mente anuviada, e as esperanças perdidas. Que há de culpa no choro de uma jovem prostituta pretensamente arrependida, mas imersa na contumácia de uma doença e que só é mais latente que as nossas doenças, e se é que isso tudo é de verdade alguma doença....




Se desprezas o choro dos fracos, é porque nunca viste um dos grandes chorar. Jesus chorou, Ghandi chorou, e multidões de seus seguidores – para que fiquemos com esses dois apenas - , choraram e choram ainda. Porque vêem o mundo e a excrescência dele.

O que não é o choro senão a porta da verdade. E é. A verdade da fome, do abandono, da injustiça, da traição, da perseguição. Só quem vê a verdade chora. A mentira, é pois, incrivelmente, a salvação.

O que engana o que (?) Há um deus e um diabo a nosso favor, e a nosso desfavor ao mesmo tempo (?) Afora um deus e um diabo, é claro que vivemos uma escravidão, chamada de sociedade civilizada. No pequeno universo de nossas vidas, isso se dá no cúmulo das simbioses neuróticas. Casamentos, amizades, sociedades, pactos, e aí por diante.

Para muitos, chorar não é fácil. Mas choram. Choram suas derrotas, seus balancetes, suas falências, suas guerrinhas perdidas. Pode ser um choro verdadeiro, mas não é um choro sensível. Choram e arrependem-se envergonhados do choro. Choram para vingar-se. Choram para construir novas guerras. É o choro da inocuidade, da insolência, das verdades restritas e injustificáveis.

Chorar do irmão, chorar pelo irmão é o extrato mais puro da piedade, que chama-se amor. Já pensei ser o amor um enorme diagrama, que contempla inclusive o ódio, que também é amor. Não às avessas, mas mantido em segredo.

Quero voltar a esse delicioso tema.
Voltarei ferino em querer desancar uma teoria corrente de que piedade não é amor. Piedade, é amor, sim !


Espetinhos e espetadinhas
-Finalmente uma boa notícia. Xuxa estreou 2009 com queda de mais de
30% na audiência.

-Vi o Rufião neste final de semana. De longe. Está de plantão no feriadão.

-Osmar Dias está com tudo. Beto Richa também. A diferença é que eu acho
que o Beto está com medo.





Teobaldo Mesquita
http://www.pacotedecronicas.blogspot.com

O vazio da oposiçoes


O vazio das oposições



Há um vácuo, um vazio, um penhasco que divide a posição do Solda para com quem queira ser-lhe o contraponto. Vejam que estou sendo modesto, condescendente, permissível em toda a largueza. Não há oposição para o atual governo. Morreram nanicos alguns capciosos.

O velho mdb de guerra, como costumam chamá-lo alguns saudosistas, por aqui ficou tão velho que capenga de caciques, índios e pajés de lá de cima. Que dêem bênçãos, que gracejem nomes e patrocinem o mínimo de sobrevida. Acabou também. Ninguém é louco em apostas arriscadas. Sem jóquei, e mal das patas, o antes cavalo alado é agora um pangaré velho e rengo. E para se ter uma idéia, quem hoje banca alguma possibilidade para o partido da ``raiva``, é o Solda. Não que o Solda faça pactos com os da ``raiva`` , porque sou eu quem os chama assim, porque assim os conheço e porque o próprio Jarbas Vasconcelos também anda de saco cheio deles. E se ele, Jarbas, fala de corrupção, pode ser que as coisas não batam bem, porque no fundo preciso reconhecer que todo partido oxigena-se com o tempo.

Mas voltemos à aldeia. É consenso admirável entre a população de que o Solda é o melhor administrador que Rio Azul já viu. Certo. Em parte, certo. Eu, completo afirmando que é o melhor político. Talvez até da região. A catilinária dele é astuta, (sic...) que apavora adversários, que cativa antigos antipatizantes. É o tal que tem luz própria. E tem.

O quadro de hoje, e que se afirmará tenuemente em 2010, de forma quase imperceptível - porque mudanças serão pouco notadas - , em nada arranha ou arranhará a liderança do Solda e a solidez de seu grupo. Alguns `` namoricos `` de campanha até poderão acontecer (sic...) .

As apostas do lado de lá estão em alta. Estão bancando tudo. Quando abrirem a banca que trata, ou melhor, joga com o futuro do Solda, aposto 1.000 contra 1. Os odiosos miram a pessoa do atual prefeito, esquecendo-se do grupo. O grupo está para o Solda, como o Solda está para o grupo.

Cartas na mesa. A oposição está jogando. Um movimento mui interessantíssimo. Movimentos comatosos, parecem, na verdade.Não são espontâneos, de quem joga com malícia e inteligência. Será sutileza ou um movimento leve, rastejante ( sic...) O silêncio, às vezes, revela trapaça da boa, ardileza, e nesse caso, um cansaço natural de tanto bater e não levar. Mas algo de curiosíssimo está acontecendo. É de verdadeiramente rir. Eles, entre si, precisavam de uma limpeza, e parece ao meu faro que isso aconteceu. Vem então, uma sensação de vazio, de silêncio sepulcral. Mas não é bem assim. Está havendo um barulho ruidoso, estranho, estridente, irritante. Eles gostam disso. Mas, espera aí...não sei se vocês entenderam o que eu disse... Estou falando dos da espreita, da espera e da sondagem, dos sobreviventes.
Entre esses, uns esperam muito, outros torcem pela viuvez. A velha guarda, de pijamas, foi-se. Adieu.

Então vejamos. Eles colocaram duas peças no tabuleiro, ou duas pedras na roleta. Na verdade ninguém colocou porque elas já estavam lá. O vudu é espetado todo dia, e o cerimonial agora carece de tempo. Mas, os tambores estão a todo batuque.

Na velha história do povo judeu em fuga do Egito, Deus fez colocar uma mesma nuvem, que era escura na retaguarda dos judeus, e clara à sua frente. Eles – não estou querendo ser pejorativo com esse `` eles`` - , tentam criar uma miragem de uma densa nuvem, e falam disso para todo o mundo, de que ela está entre eles e o Solda, e entre o povo e o Solda. O Solda à direita deles, mas eles dizem não, não..., o Solda à nossa esquerda. Eles teimam como o faraó perseguidor teimava. E olham para a nuvem... Entenderam ? Não entenderam ?

Então, vejam. Os da sondagem, da espera da boa demanda são o 2 ( dois ) da roleta. Preto 2....vai aí....tttllllééééqqqqqqrrrrrrrrr....

( Você já viu uma roleta ? )
Então deixa eu repetir:
Preto 2....vai aí........, os cavalheiros apostaram alto....!
Quem falou, foi o crupiê.

Eu, aposto, como todo mundo, no preto 17.

Como o jogo está chato, e o assunto também, eis que....

-Noite minha gente ! - fala alto um senhor de capote amarrotado que acabou de chegar.

-Ah, ah, ah, ah, é o Rufião, pessoal. - ri da histrionia do que chegou, um grupo no canto.

Ninguém ali imaginava que Rufião acabara de chegar de um jogo de roleta. De roleta russa.



( Se a paciência me ajudar, termino semana que vem. Ou, na outra )




Teobaldo Mesquita
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