terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ensaio.

Ensaio de um romance epistolar ainda em construção.
Não há título e as cartas ainda não são assinadas.
A idéia, porém, é bem concreta e latente em mim. Haverá contornos por certo no caminho.
Ainda também não soube situar as personagens. Não em local, mas no tempo. Isso determinará, certamente, uma obra extremamente ficcionista.



Varienka, minha querida amiga. Anseio por saber como tens passado. Graço de saber por Makar que recupera a debilidade já neste início de primavera por teus lados. Não diferente do verão que tivemos, o outono chegou instável, com menos frio possível, com variações de temperaturas, muitas chuvas, e sim, alguns dias frios, muito frios mesmo.
Se pegarem por aí, de ti, as cartas que te escrevo e mais as que escrevo a Makar, e sabendo agora que não deixas para ti mesma cópia das que me escreve, imagine....que emaranhado seria no pensamento de alguém... Até poderiam entender do que falo, fazer idéias de minhas rasuras e complexos que manifesto nos papéis, mas como, como...sem saber o que me respondes. Daí sim, estariam a refletir. Quem é ? De que longínquo país este escreve ? É que vosso tempo não é o nosso, e vice e versa, e mais..., aqui é verão, aí inverno, aí saraus festivos ao relento, aqui shows musicais de grande magnitude, aí floreiros nas esquinas como alta função, aqui as pedimos por telefone ou ao computador... Tudo muito engraçado. Aconselho que guarde bem minhas cartas.

Sei que preciso encontrar maneiras em palavras, ou palavras de maneira que faça entender, tal é a distância que nos separa e o tempo como que num tubo afunilado, num caleidoscópio de verdade. E mais a dificuldade acentuada que percebi em Makar, por quem, sabe bem você, tenho afetuoso carinho, um velhinho muito querido e muito entendedor das coisas da alma humana.

Poderia falar muito de vosso Rei, de vosso país. Mas deixe, as coisas se darão ao tempo. Queria mudar, queria chamá-la de você, como a Makar também. Tomarei essa liberdade cuja correção aceitarei com humildade e respeito. Como dizia, o Rei de seu país poderá sofrer muito, então muitas coisas se darão, dentro de um padrão de pensamento de sua coletividade, que ama a terra, já vi isso, já há muito que percebo. Parecerá natural, mas correrá sangue, e novos tempos virão, mais sofríveis, tenha certeza. Deixemos isso por hora.

Vivemos aqui numa democracia. É quase falsa, de falsete melhor diria. É o governo do povo, que elege seus representantes em votações. Temos uma Câmara e um Senado. Eles criam leis e ratificam ou não atitudes do Presidente do país. Estamos agora, porém, em época de eleições das unidades do país, os municípios, as cidades. Muita pachorra envolvida é o que alguém de fora diria se visse o desinteresse da população. Porque desde que vivemos a democracia, fazem pouco mais de 20 anos, amargamos dia-a-dia escândalos de corrupção e uma impunidade que atordoa o povo todo.

Minha querida amiga. Estou me preparando, como devo ter te contado por alto, para uma empreitada de um novo trabalho, de uma nova atividade. Deixarei as estradas, as viagens, meus clientes. Esse tempo está se aproximando. Há um medo, sim. Um medo de mudar. E há, de mim, uma ansiedade exposta, que notam as pessoas. Por isso, despeço-me com carinho e recomendo Mákar. Voltarei a escrever assim que puder. O tempo será de agora em diante mais inimigo do que antes. Mas jamais esquecerei de vocês. De tudo. E quanto que temos para falar, não é mesmo ?


Maio/2008

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