sábado, 6 de dezembro de 2008

Vista-se do Inconsciente.



Todos vivemos fases em nossas vidas. Algumas duram pouco, dias apenas. Outras, a gente incendeia, incandesce para que valham mais prazer, mesmo que seja de sofrimento. Paradoxo ? Pois é....Vivo de uns dias para cá uma fase de aceitar a filosofia intrincada de Dostoievski de que o sofrimento é causado pela consciência. E essa é a fase que vivo. Não em plenitude total, não de se construir conscientemente, nem de gozar a anarquia do que não é certo.
Daí que assim como tudo está, não dá.

Vou fisgar agora alguma coisa de François Voltaire, de seu Candido que fica impressionado com um mundo rústico que não conhece. Por hora, -e falo do tempo desse grande pensador-, interessa apenas o amor de uma mulher. O desarranjo que a vida lhe oferece dá-lhe prazer para viajar o mundo todo atrás de sua amada, ao passo que a consciência despertada só não lhe faz tombar porque seu amigo filósofo insiste em incutir em sua mente a idéia de que precisamos cultivar nosso jardim.

Ai, ai, ai, meu jardim.
Ficar a pensar no que Dostoievski incutiu em mim não resolverá esse estágio de pura neutralidade emocional. Estou neutro, completamente absorto e entediado com tudo e com todos. Se recobro a consciência por instantes, caio de pena de mim mesmo em viver em meio de tanto lamaçal, de tanta baixeza do ser humano, do meu próximo, do meu bem próximo de mim.

Precisarei me vestir do mais inconsciente para suportar, além do poço fundo, a inconveniência intrínseca dessas pessoinhas que não entendem do embate de idéias.
Broncos, não passam de broncos. Caipiras assanhadas. Gente reles e sem cultura.

Me esforçarei em tender mais para o inconsciente para não ter que analisar os créditos que me vêem de pessoas de minhas novas relações. Que insistem em tentar provar, com certa razoabilidade, de que o sufrágio popular recente configurou-se à uma moda monetária nas últimas horas que antecederam o `` festejo democrático`` .
Preciso assim, destruir dentro de mim a utopia de que a consciência coletiva – se é que ela existe, é como tentar domar sozinho uma tropa de cavalos selvagens. Vejo, então, que isso não existe, que é pura balela, uma ingenuidade minha. Que bobagem essa de consciência coletiva.

Viver, portanto, do inconsciente nestas horas, é sair indene para se ver lá adiante o que resta da digestão dessa sopa de pedras.
Nada de ilusões, nada de possibilitar grandes ajustes, nada de se imaginar um léu resolvido ou se resolvendo. Fico assim, comigo mesmo. É preferível as cavernas às moradias inundadas de saber duvidoso e onde se planta maldade aos montes.
E afinal, pergunto agora eu – por que estou me cobrando dessas impressões horrorosas, se o que vi, o vi de frente, assim....sem possibilidades de fugir, sem resoluções imediatas, alimentando-me para me superar do próprio hálito fétido da ignorância.

Se o que vi foi a pobreza em dois estágios.
A pobreza espiritual portentosa aos olhos dos pobres de pão, de casa, de letras, de saber.

Resolvido assim em resignação, desisto.
Nunca poderei atacar, tanto menos ajudar a criar um novo espectro.
Desisto para viver e vestir-me do inconsciente.





Teobaldo Mesquita
http://www.pacotedecronicas.blogspot.com

teobaldomesquita@uol.com.br

Um comentário:

Dhenova disse...

“... e eu que mal comecei a minha jornada, começo-a com um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida. E doidamente me apodero dos desvãos de mim, meus desvarios me sufocam de tanta beleza. Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca...”
Água-Viva” – Clarice Lispector

Meu amigo, belo texto!!! Parabéns