sábado, 5 de abril de 2008

Adeus, fantasminha.

Adeus, fantasminha.


O fantasminha morreu. O fantasminha correu .
Eu que adorava aquele blog cheio de originalidade, de ataques apaixonados aos chupins do Solda, fiquei órfão.
Não façam isso comigo. Voltem, por favor. Assim vocês acabam com minha munição de palavras.

Deve haver um motivo para que o fantasminha desaparecesse. Eu suspeito de um. Não que lhe preocupe a investigação policial, não. Penso que não seja isso. Acho sim que o fantasminha quer mudar de vida. Ele, um usurpador de verdade, não sei até quando vai agir como antes em volta do ninho do qual sugou o que pôde.

E agora ? Qual seria a estratégia ?
O ninho, pobre como está e feito um balaio de gatos, pode já não mais servir. Então, recuar. Então estrategizar. Então, voltar ao passado, agir não mais como difamador dos pobres pássaros do Solda, e sim, como angariador de apoios.

Mais uma patacoada, mais uma fora, mais uma carta do castelo que rui.

Depois de escaldar seu ódio, que para mim é muito mais inveja do que ódio, pôs-se de vez no anonimato. O fantasminha não me preocupa, não me incomoda. Ao contrário, vinha me dando oportunidades, me inspirando nos momentos mais alheados de mim. Usando uma linguagem neo-análoga, que precisamos catalogar na Academia Brasileira de Letras, ele desferiu seus golpes contra todos os seguidores do Solda, comparando-os com pássaros, que por sua vez, como nós humanos, parecem padecer de defeitos, anomalias e curiosidades exóticas.

A mim escolheu a estapafúrdia e pouco original comparação com o chupim, que também pode ser chamado de chopim. Não me é vergonha nunca dizer que no imaginário popular essa comparação equivale a viver às custas de uma mulher. No senso comum do popular, ainda, o chupim é rótulo de quem vive às custas de uma professora. O dito é muito usado no interior do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul.

O fantasminha.... - puxa, que vontade de dizer seu nome- é um caipira criado à margem completa e excluída da modernidade. É agitado como um cão sarnento, trocista e vil como um aristocrata desocupado. Parece não lhe interessar o tempo de hoje, parece desavezado às letras, porque minhas suspeitas são graves de que seu blog vinha sendo escrito por uma terceira pessoa. Sorri frivolamente, e no entanto afasta de si os equilibrados e sensatos. É um anti-cristo da política, um Fernandinho Collor na versão mais reles e atrasada, um Lula mais arrumado na feição.

Minhas contas, meus dinheiros, não interessam a ninguém. Se meu acerto é com a Receita Federal, com o Imposto de Renda, ele não pode supor, tampouco aludir, comparar, insinuar. Comparando trabalho por trabalho, ganho mais que ele, certamente. E devo menos que ele, com mais certeza ainda. Me acho um homem moderno, sou um judeu despojado e coleciono vinhos, livros e palavras. O dinheiro para mim é apenas meio de subsistência. O que me move são as aspirações da alma.

Não deveria, mas direi publicamente e ao fantasminha também, que sempre fui péssimo em matemática. Não sei contar. Sou como os índios que contam até 2. Paradoxalmente durante 14 anos de minha vida contei dinheiro para os outros, sempre com uma máquina ao meu lado. É que fiquei conhecido e fui agraciado pelas gentilezas e pela educação que ganhei de meus pais e de minhas escolas e que externei de coração disciplinado por sugestão e regra de meus patrões. Conquistei tanta gente, que não vejo risco em dizer que meus admiradores são 100 vezes mais em número que os supostos amigos do fantasma. A diferença de nossos admiradores é que a maioria dos meus está no cemitério e a dos seus pelas ruas. E como dizia meu avô, os piás e os cachorros vivem nas ruas.

Minha esposa passa cheques, conduz negociações, sugere aos obradores e decide muitas coisas. Inclusive as coisas do supermercado. Óleo, farinha, carne, massa de tomate, essas coisas. Eu, entro com o tempero. Eu, entro com o equilíbrio. Uma porção de meu dinheiro entrego a ela. Não interessa quanto.
A danada deve ser uma judia da `` bota do Mediterrâneo ``. `` Una moglie finanziere `` . `` Una donna destro `` .

-Sei que isso fere sua inveja, fantasma.

Em livros, meu caro ser quimérico, invisto 300 reais mensais para os meus filhos. Mas o dinheiro não é tudo. O que mais dou a eles é a oportunidade de conversar e discutir. Dou tudo de mim, inclusive o por quê de minhas inabilidades, defeitos e poucas-vergonhas. Por isso sou moderno. Não planto frivolidades nem futilidades em seus corações. Por isso, logo vê que são simples, humildes mas peculiares no caráter.
-De quanto é o seu investimento mensal em literatura para as crianças de Rio Azul ?

Voltando à minha `` donna `` , à minha ``ragazza matrigna`` ela devota-se-me com respeito e dedicação. E ainda ganho presentes caros 4 vezes por ano. Dever-lhe-ei consideração até os últimos dias de minha vida. Como profissional é inatacável e elogiadíssima. Por isso, admirada. Orgulha-me muito.

Mais um golpe na inveja do fantasma.

Outra preocupação desse ser simulacro é minha amizade de longa data com o Solda. Além de editar o seu diário cibernético, emito opiniões que são ouvidas, dou conselhos que é o melhor presente que um amigo pode dar ao outro. Temos uma relação aberta e progressista.
E ainda rimos das evoluções desastradas do fantasma e sua turma.

Minha aproximação `` tet à tet `` com o Solda já fez aniversário de mais de um ano, mas o primeiro voto que lhe dei sem conhecê-lo bem, foi lá no final da década de 80. Tenho dedicado boas horas à nossa empreitada e nunca lhe tirei um centavo. Ao contrário, arco com despesas de jantares, mimos, papelarias , despesas telefônicas e de combustível.
Se estou plantando ?
Não. Estou cultivando e expondo minhas idéias.
Tudo o mais, corre por conta dele.

-Pare com essa inveja, fantasma.

Além de sua preocupação com minhas relações intra-maritais e financeiras, o ser do outro mundo vê-me num hedonismo que o irrita. Vê-me por aqui quando não viajo e planta idéias em seu coração de que sou um doidivanas alegre, um bom vivant desclassificado que vagabundeia as horas. Não sabe ele das minhas ocupações nem das minhas preocupações. Quanto mais não as valoriza. Porque não sabe de que se trata, e jamais entenderá, porque fantasma não pensa. Fantasma é como uma folha ao vento. De lá para cá, de cá para lá. Leva mau agouro e traz voz surda nas madrugadas de churrasco e pescarias.

Estou tão empolgado e excitado que quero esclarecer ao fantasma sobre minhas atividades extra-contratuais. Passo horas olhando minha pequena coleção de vinhos. Quanto mais os olho mais nectarosos ficarão. E procuro não fazer barulho, eles são sensibilíssimos. Troco de lugar na casa e leio 30, 40 páginas de Dostoievski, Diogo Mainardi, Goethe, Euclides da Cunha, Érico Veríssimo e Flaubert. Amanheço e anoiteço na internet com pesquisas fúteis e agradáveis e buscando informações que me dêem um título de sabedoria e conhecimento. Nunca demonstro isso porque não vivo de aparências. Já chega a um milhar de páginas escritas de poesias, crônicas, ensaios e postagens. Faço dois giros pela cidade. Um pela manhã e outro à tarde. Costumo em alguns períodos de 10, 20 dias, praticar meditação, no que chamo de auto-salvação e salvação da humanidade.

Veja que minha pretensão ajuda até ao fantasma.

Se sobra tempo ?
Claro. É quando confiro os extratos bancários, acompanho cotações de algumas ações, repeso algumas barras de ouro e tiro o pó das escrituras bem guardadas. Essa é a parte chata do dia.

-Que boa que é a minha vida, fantasma.

Como também sou um bruxo adivinhão, um Rasputin envidraçado-fumê, estou prevendo que a mudança de vida do fantasminha leva a algum lugar. Não sei por quê acho que ele prepara sua candidatura para alguma coisa.

-Sentiremos sua falta, fantasma.

-Seu fujão.





Teobaldo Mesquita
http://www.teobaldomesquita.blogspot.com/
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