segunda-feira, 14 de abril de 2008

O Sol da Lua.

O Sol da Lua.


Cheguei de ``Marrecas `` há pouco. De `` Marrecas `` , aliás, falei por telefone com o Solda. Ele adiantou que teríamos novidades. Não acredito que o Solda esteja falando do que acabei de ver na minha mesa. Um envelope. Misterioso envelope. Já, já falo disso.


Em `` Marrecas `` , Pinhão e Chopinzinho vi que seus prefeitos estão mantendo o que vejo já há bom tempo por lá. Cidades limpas e agradáveis. Cidades limpas, mesmo. Me admira em terra de descendentes de italianos tão pouco seja a opção de vinhos engarrafados. É que eles recebem na porta de casa o vinho do colono, da uva bordô, de qualidade apenas aceitável. Apenas aceitável. Bom para o dia-a-dia. Acabei por comprar, mesmo relutante, um representante desconhecido da serra gaúcha. O Mioranza. Já ouviram falar ? Por ser um merlot vai deitar na madeira e dormir muito tempo.


Em noites compridas desse início de outono, mas com calor escaldante, exauri-me em Dostoievski, especialmente em `` O Sonho do Tio `` . Parece que Fédor me arrasou, especialmente na quinta-feira, quando já deixei de meditar nas idéias que o Solda me encomendou. Vejam como ele é louco. Não o Dostoievski. O Solda.


Curioso que, voltando às coisas da aldeia, lembro que quando está o nosso grupo reunido, alguns de nós cai constantemente no erro de chamar nossos adversários políticos de oposição. Está errado, claro. Nós é que somos oposição de uma situação. Ou está tudo trocado ? Será ?


O Solda me advertiu genericamente, e seu discurso foi uníssono com os demais, e isso em várias ocasiões, que a turma de lá, para a qual ainda encontrarei um nome, desgastada como está, incorrerá em manobras, em diversionismos e em falsetes. Está corretíssimo. É o que lhes coube de sobra de tudo.


Querem ver bem ?


Postaram para mim, em meu endereço, um envelope escrito com a velha máquina de escrever ( como essa gente é antiga e antiquada ) e contendo um bilhete em papel decalque, com a inscrição, O Sol da prosperidade em eclipse total. Como os dois sufixos, sol e da não estão juntos nem unidos por hífen /-/ , deduz-se que quebraram a cabeça para elaborar um eufemismo ``parabolesco`` para impressionar as pessoas. A mim, lógico, não.

Senti-me lisonjeado com a correspondência. Lembrei-me de meus tempos juvenis, tempo das missivas cor-de-rosa e perfumadas. Fazia tempo que o carteiro não me trazia um envelope.


Como qualificar essa gente ?

Pífios, pequenos, mordazes, covardes, ignorantes, trocistas, estúpidos e atirados. Mais ?


Claro que desconfio que o fantasminha a quem dava por morto, pode sim ter passado por uma metamorfose. E como dizem que fantasma não morre, a metamorfose faz sentido sim. Aí dá medo.


A psicologia de botequim diz que escondemos nas palavras nossos mais acalentados sonhos sexuais. Poxa, será que o fantasma esteve apaixonado por mim ? Meu Deus, o que diriam...


Então, pansexualmente, quem está para o sol ? Quem se fixa no sol, quem procura o sol, quem quer magoá-lo, quem quer despertá-lo, quem quer se relacionar – mesmo que não sexualmente – com o sol ?

Em que ponto se fixam, agora, por exemplo, o contraste do sol, a lua, e o fantasma metamorfósico ?

Não estou decerto na pista certa ?

Ou então, deixaria eu de me lembrar do fantasminha ?

Porque também não sendo o fantasminha, que diferença faria se o fosse o Brava Gente, ou o Samurai do Reino...


A verdade é que bem cabe dizer que nesse complexo, é a lua manifesta em suas fraquezas para com o sol.

Outra da psicologia de botequim. Costumamos buscar na fortaleza dos outros aquilo que nos falta, que nos põe menores em nossa debilidade, quando já perdemos o norte das coisas e tudo acaba por estar-nos nublado. É natural isso.


Repito constrangedoramente, de novo, que esse grupo de pessoas está desarticulado. Do pequeno palácio, já saiu na semana passada que o mor `` atirou a toalha ``. Mas o mor ainda fica encantado com as peraltices dos rasputins do brejo, com as raposinhas manhosas. Então já não sei mais nada. O que tenho líquido para mim é que ele, o mor, não aprova essas rasteirices, essa baixaria, esse avilte desqualificado. Recuso-me a acreditar que deixe passar os áulicos cheios de ódio, os iracundos, estes.

Mas, eles estão aí. Postando cartas anônimas, agora. Cartas sem remetente e postadas na agencia de correios de Rebouças. A minha, o envelope que me chegou, acabei de jogá-lo num saco plástico porque o departamento que investiga a questão dos blogs apócrifos pode se interessar pelas impressões digitais.


O Solda realmente se sai bem. Não contentes com o atual prefeito, até mesmo seus contrários políticos o elogiam. Reconhecem a prosperidade passada que entrou em eclipse – e, não é parcial, é total – no tempo de agora. O fôra inconteste no período soldista. A prosperidade.


Pois bem. No crepúsculo dessa minha despretenciosa crônica reina a serenidade diante de um misterioso envelope. Como dizia anteriormente – e, já me adiantando - , os namorados elegem constantemente o sol e a lua para os proteger na sua sina de amor. E o eclipse, nada mais é que uma cena de ciúmes da lua para com o sol. Pois o eclipse nada mais é que a lua se intrometendo em nossa visão de um sol.


O que diria o Sol nesse caso ?


- Lua, lua minha. Não te aborreças com ciúmes. Saia de minha frente para que eu contemple a terra. Esse teu sentimento me põe triste e desanimado. Deixa que eu reine para os moradores daquele nobre planeta.


A luinha, a púbere luinha envolta em franjas virginais, não mais se contém e desanda no choro mais condoído que o sistema planetário já viu.

-Viu só o que fizeste, malvado sol ? Alguns de lá, dessa terra, que me galanteavam para te provocar, estão agora mortos, diz a lua.


-Não te faças rogada, minha luinha. Deixa-te disso. Tu és minha, e o que já morreu, morreu.


- Assim pois, que descansem em paz, e Amém !






Teobaldo Mesquita

www.teobaldomesquita.blogspot.com

teobaldomesquita@uol.com.br

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