sábado, 11 de julho de 2009

O choro




O choro


Alguém viu Mandela chorar. Na cadeia ou fora dela, o que dava no mesmo. Alguém viu a desonrada Mukhtar Mai chorar. Aqueles que riram e tripudiaram dela.
Eu não gosto de ver pessoas chorarem. Porque só se enxerga a vida com os olhos e alma chorosos.

Quando meu filho tinha apenas 4 anos, eu lhe falava frente à frente do mundo, da vida, das diferenças sociais, do nosso lugar à sombra que chegaria um dia, e dos mendigos que dormiam nas ruas das grandes cidades. Incidentalmente, não muito tempo depois, levei-o pela mão a passear pelas ruas do centro de Curitiba numa manhã gelada de um mês de junho. Silencioso, ele me deu com o cotovelo direito, apontando com o dedo para um homem coberto de jornais. Choramos os dois. Foi o maior silêncio da minha vida. Eu e ele havíamos entendido boa parte das questões humanas, e foi assim um dos acontecimentos mais importantes para mim. Fôra o choro mais condoído que eu já havia chorado. Caminhamos, depois disso, vários passos sem dizer uma só palavra.Eu e ele olhávamos para o chão, abatidos e pensativos, como se o mundo sofresse um blecaute naqueles instantes. Ali eu havia cumprido boa parte de minha função de pai. Ali eu via ao meu lado que também caminhava um homem, e que sua sensibilidade era fruto de nossa franqueza e de nossas longas conversas.

De tanto insistir que a vida é uma grande mentira, concluo que o silêncio é o choro mais ruidoso de nossas almas. Não há choro comparável com o dos silenciosos, cabisbaixos ou olhando ao céu e ao léu. Esse encontro detestável com nós mesmos, paradoxalmente é o paraíso em que vivemos um dia, ou que num dia pensamos existir e nele viver. E ele, esse paraíso, nunca está conosco.

A brutalidade do homem é uma coisa nojenta. Essa nossa brutalidade, nossa...maximamente nossa, coloca-nos ao chão. Não há o que fazer dela, se deus nada dela faz nos desesperos, verdadeiros desesperos que nossos olhos não veem e nossos ouvidos não ouvem.

Se queres fazer parte do mundo dos loucos, reflita um pouco sobre isso. Se trouxeres uma idéia teológica, resolva primeiro a questão de um simples homem que seja, sentado numa pedra, numa esquina, com o bolso vazio, a alma amargurada, a mente anuviada, e as esperanças perdidas. Que há de culpa no choro de uma jovem prostituta pretensamente arrependida, mas imersa na contumácia de uma doença e que só é mais latente que as nossas doenças, e se é que isso tudo é de verdade alguma doença....




Se desprezas o choro dos fracos, é porque nunca viste um dos grandes chorar. Jesus chorou, Ghandi chorou, e multidões de seus seguidores – para que fiquemos com esses dois apenas - , choraram e choram ainda. Porque vêem o mundo e a excrescência dele.

O que não é o choro senão a porta da verdade. E é. A verdade da fome, do abandono, da injustiça, da traição, da perseguição. Só quem vê a verdade chora. A mentira, é pois, incrivelmente, a salvação.

O que engana o que (?) Há um deus e um diabo a nosso favor, e a nosso desfavor ao mesmo tempo (?) Afora um deus e um diabo, é claro que vivemos uma escravidão, chamada de sociedade civilizada. No pequeno universo de nossas vidas, isso se dá no cúmulo das simbioses neuróticas. Casamentos, amizades, sociedades, pactos, e aí por diante.

Para muitos, chorar não é fácil. Mas choram. Choram suas derrotas, seus balancetes, suas falências, suas guerrinhas perdidas. Pode ser um choro verdadeiro, mas não é um choro sensível. Choram e arrependem-se envergonhados do choro. Choram para vingar-se. Choram para construir novas guerras. É o choro da inocuidade, da insolência, das verdades restritas e injustificáveis.

Chorar do irmão, chorar pelo irmão é o extrato mais puro da piedade, que chama-se amor. Já pensei ser o amor um enorme diagrama, que contempla inclusive o ódio, que também é amor. Não às avessas, mas mantido em segredo.

Quero voltar a esse delicioso tema.
Voltarei ferino em querer desancar uma teoria corrente de que piedade não é amor. Piedade, é amor, sim !


Espetinhos e espetadinhas
-Finalmente uma boa notícia. Xuxa estreou 2009 com queda de mais de
30% na audiência.

-Vi o Rufião neste final de semana. De longe. Está de plantão no feriadão.

-Osmar Dias está com tudo. Beto Richa também. A diferença é que eu acho
que o Beto está com medo.





Teobaldo Mesquita
http://www.pacotedecronicas.blogspot.com

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