sábado, 11 de julho de 2009

Eu nao sou um barnabé.



Eu não sou um barnabé.


É um risco ser funcionário público. É um risco ser chamado de barnabé. Etimologicamente falando, ou melhor, correndo atrás do significado desse termo um tanto pejorativo, chegaremos à sua origem hebraica e que nos dá a tradução de `` o filho da consolação ``. Eis, então, o que tão bem se encaixa. Eis o que os desolados tanto procuram. Não todos. Boa parte, porém.

Faço parte da malha dos desolados que infringiram a si mesmos e às regras da lógica na busca visionária do empreendedorismo bem sucedido. Isso, na verdade, não existe. Que sirva de lição para qualquer um. As chances são bem menores que ganhar na mega-sena.

Depois de viver mais de uma década entre um curso de faculdade e o esmero e a dedicação que me exigiam o patrão, optei pela segunda. Veio logo depois, o limbo, aquela espécie de mini-paraíso. O limbo das estradas, dos hotéis, das esquinas, coisas que só os caixeiros-viajantes sabem o que significa. Adotei o hedonismo, comecei coleções de vinhos, conheci Makar e Varienka, de Dostoievski, e de repente....muito de repente, lembrei-me de mim mesmo. Lembrei-me da grande mentira de ser grande e um pouco auto-suficiente. Fui para o ``listismo``.

A corporação para a qual trabalhei, como se dono dela fosse, já não existe mais, porque tudo também era uma grande mentira. As verdades daquilo estão nas gavetas e nos patíbulos. Patíbulo, aqui, para mim, também é queima de arquivo (sic...)

Alistado no exercito do Solda, o que é um desafio para poucos, fui reconhecendo algumas coisas das quais já sabia. Que o general é durão, e que não só administra como gerencia e comanda. As coisas foram caminhando por si. Bem ao meu gosto. Nomeado tenente-financeiro, preterido do galpão de munições artísticas e culturais, vi-me de novo ao lado de outra grande mentira, que é o dinheiro. Este, vem e vai. É sempre assim. É um roteiro determinado. Mas na Brigada do Solda, que chegará ao generalato de Divisão, difere-se o vem e vai do vil metal se comparado a coronéis molóides e que já vestiram o pijama. Logo, logo, chega um novo tanque com grande potencial de tiros, uma nova escola para soldadinhos, vários ônibus de transporte de tropas e um sem número de conquistas. Impossível listá-las.

Ah, sim... O barnabé.... O barnabé caminha com passos de pato gordo. Há não muito tempo atrás, costumavam fumar para quebrar a monotonia do dia-a-dia, discutir futebol de todas as modalidades, inclusive a de botões, e seu happy hour...bem, seu happy hour..., deixa prá lá...
Na era Pré-Collor de Mello, como era o caso de alguns bancários residentes de pequenas cidades, só ficavam abaixo do Prefeito e do Juiz. A estirpe tem características genéricas de acordo com as regiões, mas os típicos e que eram alvo de gozação da imprensa, estavam em São Paulo e eram nordestinos ou filhos de nordestinos e apadrinhados dos Zé´s da vida.

Os barnabés modernos usam blazer´s leves, ou mesmo ternos de linho adquiridos em lojas de departamento de judeus milionários. Geralmente copiam hábitos de aspones de marechais. Profissionalizaram-se na repartição de tarefas e culpam a burocracia que ficou complexa.
Ô Leitão..., levanta Leitão !
Mas há uma geração renovada, da qual muito se espera, mas convém não sonhar. Usam lap-tops, tem formação acadêmica, boas relações e detestam carimbos. São proeminentes e exercem uma liderança discreta, da qual parecem não fazer questão. Da mesma geração, há os espertos, que logo pensam no estreitamento de laços com os primeiros. Ao passo que detestam carimbos, envencilham-se com pastas e armários, culpa que não é deles.
A velha guarda é romântica. Não poderia ser diferente. Os assuntos de corredor, local mais fácil de encontrá-los, é além do futebol, as aposentadorias, os tratamentos médicos, bulas de remédios, e volta e meia com o barulho de botas de algum sub-tenente, expressam dureza na fisionomia, nos olhos, mas são heróis na experiência, porque conservam numa situação dessas uma frieza de cirurgião.
Já eu, quero medalhas. Sou da geração Y. Preciso de medalhas no peito. Se subirei a capitão, não sei. Mas mereço medalhas. Quero bem a todos e à corporação. Por um só motivo. Me preocupo com tudo. Como dantes, como foi há 25 anos atrás. Acredito no lema, traço planos de guerra, faço vistas à tropa de longe, sonho com acontecimentos, acredito em nossa força, empilho centenas de cartas e palestras. Os próceres do comandante, inteligentes por isso, já viram tudo de mim.
E-u n-ã-o s-o-u u-m b-a-r-n-a-b-é.


Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br



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