sábado, 28 de agosto de 2010

Rio Azul, 92 anos !

Rio Azul, 92 anos.

Quando numa sexta-feira da paixão pela manhã fomos eu e meu pai em busca de “macela” , concluí como em diversas sextas-feiras da paixão que aqui no Sul tudo é lindo, e que meu pai não deve sentir-se deslocado de sua pampa de planícies a um milhar de quilômetros daqui. Aqui também tem “macela” , o vento ruge em alguns dias de inverno, e o fogão de lenha é socorro nas casas, como o fogo de chão pode ser socorro de nossos agricultores nas madrugadas de verão.

E porque aqui tudo é bom, bom é dizer que apraz à saúde respirar mil metros acima do nível do mar, contar com vales encantadores que já vi no Faxinal dos Elias e na Agua Quente dos Meiras. E encantadoras são as araucárias que ainda vemos, os lajeados com sua água límpida e cristalina, o parque da pedreira, as procissões, os casamentos de “polaco”, as lembranças do cinema e da estação de trem, o novo “footing” nos lusque-fusques de domingo.

Quando os aventureiros ( bandeirantes ? ) engajaram-se na selva do sertão do Jararaca, os indígenas da região do Marumbi precisaram recuar para Palmas e Chopinzinho, mas a lei e a necessidade do facão prevaleceram antes, e ainda depois da construção da estrada de ferro. Estes, aventureiros e índios, avistaram embarcações espanholas no Rio Potinga. Essa história está registrada por Romario Martins. Não sei se antes ou depois do Tratado de Tordesilhas. Mas entre uma coisa e outra, limparam a fartura de madeira e erva-mate desta amada terra, que logo, logo, recebia os imigrantes poloneses, ucranianos, e alguns árabes e judeus disfarçados. E com tudo meio junto, a estrada de ferro Paraná-Santa Catarina.

E depois de contendas, armações de ardil, execuções em praça publica, raiou o 1918 que desmembrava Rio Azul da jurisdição de S Joao do Triunfo.

E cá estamos nós.

Ainda no meio de contendas, armações de ardil e execuções em praça publica.

Madeira, erva-mate, batatinha, feijão, fumo. Chão de cascalho, chão de montanhas, terra de santos e loucos, matreiros pelos cantos, jogatinas pelos fundos, espalhamento de “olho-gordo” , fogão com pinhão e chimarrão ( chimarrão ? ), padres benzendo casas. Quem aqui nasceu, por aqui passou, ou por aqui ficou, de tudo viu.

A única porção mais latina, do país da bota, levou arado no “osso do peito”, e hoje cansados, deixam para seus filhos maiores áreas de terras e porções de metal em cofre. Do Cáucaso, o sofrimento e a dor, característica que quem explica é o pai da literatura russa, Fiodor Dostoievski. Um amor complacente, uma passividade psicológica, uma espera que não chega nunca. As novas gerações assimilaram que era impossível a política do trabalho pela subsistência. Os caboclos, remanescentes alguns dos portugueses, outros vindos de tempo em tempo, mas especialmente a “nata”, ficou vendo a banda passar. Chamados de “martim-pescadores” , dividiram-se entre ricos e pobres de sua própria gente. Os ricos apodrecem como suas imbuias e pinheiros, e os pobres viraram mão de obra, às vezes de pouco valor. Herança do Brasil Colonia e do Brasil Império. É bom ver isso com Laurentino Gomes.

E chegaram, também de tempos em tempos, os “catarinas”e os “gaúchos” . E chegaram outras pessoas, especialmente depois da década de 1980. Alguns especulando e outros desbravando às custas de muita luta, mudando o panorama. As terras valorizaram-se, mais ainda com a intensificação dos reflorestamentos. O padrão de vida melhorou, as fumageiras começaram a qualificar o produtor e o produto, chegaram água e luz no campo, as estradas multiplicaram-se e melhoraram, e hoje, somos uma aldeia só. Sem as mesmas soluções, mas com muitos problemas comuns.

Hoje, com bairros e vilas, a cidade espichou-se, e as áreas de produção aumentaram no campo. O Municipio cresceu a olhos vistos, de 15, 20 anos para cá, e nosso PIB caminha para 200 milhoes, mas com uma repartição per capita de não mais de 8 mil reais......Só não podemos dizer de uma economia sustentável pela insistente ameaça anti-fumiculturista. De todo jeito, é essa a situação. Mas falta alguma coisa.

Estamos silentes e ausentes diante de uma necessária porção de Humanidade entre nós. Isso não é coletivo, este autor não gosta e não acredita nesta palavra. Falo do voluntariado individual e de ações organizadas por indivíduos.....

Sempre estivemos ausentes e silentes. E carentes. E doentes. E dementes.

Alegria, fé e pulsividade de Vida, só na igreja. Por meia-hora. No maximo uma hora....E só na igreja....

Vivo dizendo que em muitas de nossas casas há tantos profetas e poetas abandonados... Surdos-mudos. Aleijados. Esquecidos. E o pior, mal queridos. Não os consultam, parecem deles querer a maldição......

Se não nos amarmos e não amarmos o mundo, nao seremos mais que uma cidade em desenvolvimento. Talvez com pedófilos mascarados, crianças grávidas, boyzinhos encocainados, aquela gente de camisa bonita e dentes podres. E agora o crack, senhores. O pior ainda virá.....Mesmo num tempo secular, há que se lembrar do tri-pé, igreja, escola e família. Se você pensa ter evoluído, então substitua. Espiritualidade, escola e família. Mas sua espiritualidade precisa valor um amor. Sem mensuração. Amar apenas, já é conseqüente. Entao, freqüente a escola de seus filhos e cobre ações. Em casa, desligue a televisão, monitore a internet, que é mui útil, e empilhe livros. Um livro alimenta uma alma. Varios livros, podem salvar a humanidade. E não te esqueças de teus irmãos. Dói neles certa situação de discriminação. Vá aos bairros de Rio Azul. Ajude-os a coletar lixo de córregos. Leve camisinhas, leve fraldas, leve escovas de dente, leve palavras repetidouras, e que se repetirão....Inopinadamente, faça isso... Fale de amor e de projetos. Plante esperanças, enquanto valorosos homens trabalham dia noite por este Rio Azul. Diga que queremos a juventude em rodas, em passeatas, em bibliotecas. Leve tintas e pincéis. Ensine-os. Viva em meio a eles.

Como ainda estamos no meio de contendas, armações de ardil, e execuções em praça publica, prática farisaica, e em tempo de comemorar 92 anos de um Rio Azul independente, fica a mensagem de perorar pelo ouro desta terra. A nossa gente !

Mas não é tempo de espoucares. É sim, tempo de reflexões.

Notas

A “macela” , que faz bem para cólicas estomacais, deve ser colhida sempre no amanhecer da sexta-feira santa.

Contenda- briga

Armaçao de ardil- planejar o mal

Execuçao em praça publica- figura de retórica que lembra a seita dos fariseus, e sua “língua comprida” .

Teobaldo Mesquita

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